segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Pernas e espetos

A querida Eid reinou sozinha no primeiro churrasco da Regiana. Dizem que foi superlegal (as fotos confirmam). Em um dos flagrantes fotográficos, a rainha Eid, com um sorriso-monalisa, aprecia tudo por baixo das mesas e das cadeiras (na certa, esperando os nacos de carne choverem).


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Café Piu Piu


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

E agora?

Sempre morei com meus tios, mesmo no tempo em que meus pais eram vivos. Minha mãe foi-se há mais de 20 anos e meu pai morreu no ano passado. Por conta disso, convivi com duas casas: a da minha tia e a da minha mãe (meus pais se separam quando eu, sexto filho, nasci).

Aos domingos, na casa da minha mãe, o almoço era mais tarde e mais gostoso: minha mãe tinha tempo e gostava de cozinhar (apesar de ter menos recursos que minha tia). Minha tia tinha menos tempo e menor disposição: normalmente improvisava na cozinha. Ficava bom -- aliás, muito bom. Tanto que até hoje, apesar de todo arsenal de receitas à minha disposição, geralmente eu improviso quando estou à frente do fogão, seguindo o exemplo dela.

O final da noite de domingo nas duas casas também era diferente. Em Pinheiros, onde eu morava com minha tia, era o Programa Silvio Santos. No Ferreira, bairro da minha mãe, era o Fantástico (o show da vida). Durante o dia, contudo, era sempre igual: Programa Silvio Santos.

A atração televisiva conduzida pelo empresário Senor Abravanel não era apenas um programa: era uma maratona dominical que começava às 11 horas da manhã com um programa infanto-juvenil (Domingo no Parque) e terminava às 22 horas com o Show de Calouros.

Os programas dentro do domingo seguiam ao longo do dia com diversas participações, mas apenas uma coisa em comum: sempre Silvio Santos  na frente do palco.

Contudo, havia outro ponto em comum nas quase dez horas da atração. Alguém que ficava atrás do palco, no que aprendi, desde cedo, a conhecer como os "bastidores". Palavra difícil para uma criança, mas que fazia parte do dia-a-dia de alguém que ficava pelos menos 5 horas diárias diante da TV.

Hoje em dia eu passo meses inteiros sem apertar o botão "liga" dos meus dois televisores (um presente da chefe e outro empréstimo de um amigo). Às vezes, uso a menor, do quarto, como abajur (um luxo: abajur com controle remoto) para não tropeçar na escuridão da noite rumo ao banheiro aliviador das emergências hídricas noturnas.

Hoje, surpreso e esquecido da real possibilidade, descobri que o Lombardi havia morrido. Sem alarde, discreto como ele sempre fora. Morreu em casa, durante o sono.

Então, de repente, lembrei-me da carcaça de frango com batata ao molho que minha mãe fazia na grande panela de pressão. Do feijão fresquinho, do arroz branquinho e do refresco em pó misturado com água gelada. De repente, lembrei-me do almoço em casa, em Pinheiros, às vezes um frango assado de padaria e uma garrafa de vidro de coca-cola. Almoço que tia Hilda preparava às pressas (principalmente se houvesse visitas).

Não me lembrei do Lombardi: eu não o conhecia, como, aliás, milhões de pessoas. Mas lembrei-me de sua voz jovial, sorridente. A voz dele tinha sorriso. Eu mesmo, às vezes, atendo ao telefone sorrindo, pois aprendi que o interlocutor pode perceber nosso sorriso na voz. Aprendi e aceitei porque me lembrava da voz sorridente do Lombardi.

"É com você Lombardi".

Eu sempre achei que ele fosse magro, como Michael Jackson. Narigudo. Queixo para frente. Então as fotos dele finalmente apareceram: nada disso. Meio baixinho, barrigudinho. Tarde demais para conhecer alguém, no dia da sua morte.

Até ontem, se eu quisesse fazer um mergulho no passado e me esquecer que o tempo moveu-se assustadoramente, eu poderia colocar frango na panela, deixar o cheirinho subir junto com o vapor, ligar a TV e, sem prestar muita atenção, ver as imagens e ouvir o som.

Talvez, lá no fundinho, misturada com a gargalhada do apresentador e com o sorriso do locutor, eu ouvisse minha mãe dizendo que estava pronta a comida, que eu saísse de frente da TV e fosse comer. E então eu comeria a comida da minha mãe de novo. E inocente, como jamais voltarei a ser, ficaria feliz com esta coisa simples da vida que é um almoço de domingo.

Jorge de Lima (Sampa)