O poeta e a palavra
à Banda Rephorma Geral
Rápido, oportuno.
Ninguém nunca se lembra de olhar,
mas ele parece estar ali:
pronto para a palavra,
pronto para a mensagem,
pronto para transmitir um recado para cada coração.
O poeta fast food.
O poeta just in time.
O poeta plug and play.
Porém, a palavra se revolta
-- não se vê prêt-à-porter.
Se rebela, entra em greve, sai de férias.
A palavra se nega ao poeta
como a cortesã que resiste ao cliente.
Eles se atracam, se insultam
-- discutem a relação.
Cobram fidelidade,
amor eterno
-- amizade ao menos.
E nada.
O poeta descobre-se solitário,
sem poderes, sem sinônimos, sem papel
-- mudo, em sua caneta.
Descobre-se lavrador
tendo que minerar cada pequena frase,
escolhendo, entre milhões,
a palavra pedra preciosa do poema.
Precisa cortejá-la novamente,
jurando-lhe renovado amor,
crendo-a única,
incomparável,
insubstituível.
Rara.
Então a palavra lhe sorri, outra vez convencida.
Diminui seu dengo, aquieta-se.
Se apresenta dócil
diante do bardo.
E se faz poesia.
Jorge Alves de Lima
São Paulo, 30/03/2011
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