Dinheiro, dinheiro, dinheiro
Último dia de trabalho antes das férias. Fui comprar os tais dos euros e não tinha mais nenhum centavo de euro (nem em espécie nem em travelers cheques). E estava em 2,84! Aquele bendito banco estadounidense tinha que quebrar justo a semana da nossa viagem!?
Passei o dia todo lendo tudo sobre o câmbio e estão dizendo que é pura especulação. Durante a tarde o governo informou que vai leiloar dinheiro, então o dólar começou a reverter a trajetória de alta. Estou torcendo para amanhã, pela hora do almoço, as coisas ficarem mais razoáveis.
Quanto a nós, simples mortais atrás de meia dúzia de notas de euro, temos algumas opções: a) comprar no preço que tiver, b) comprar menos, c) só levar os euros emprestados por um amigo e jogar o resto no cartão (e seja o que os céus quiserem na hora de pagar a fatura), d) comprar lá (nossa amigo mezzo brasileira mezzo italiana falou que eles já estão trocando real por euro em Roma).
Consegui uma tabela com a cotação do euro dos últimos 3 meses. E sabe o que eu descobri: que a moeda começa o mês num valor e termina em outro, mais baixo. O que é bom e mal: bom porque pode significar que a moeda vai abaixar. Mal porque o meu cartão vence no começo do mês...
Enfim: espero que eu tenha feito tudo o que eu precisava fazer aqui pela USP, pois só volto em 13/10/2008. E sabe de uma coisa? Estou exausto (vou dormir as 10 horas da viagem, podem acreditar).
Downtown
Mas o acontecimento do ano é porque eu consegui, após muito tempo, ouvir a música Downtown, da
Petula Clark. E consegui um vídeo no Youtube (aliás, vários). Um, com a tradução em português:
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Quarteto

Sábado, 13 de setembro de 2008, a partir das 18 horas, aconteceu o aniversário da Regiana. "Acontecer" é uma palavra apropriada, pois foi mesmo um acontecimento. Havia umas quatro ou cinco tribos diferentes: pessoas que se conheciam e que não se conheciam, formando os mais inusitados núcleos. Foi muito bom ver o pessoal se misturando, as conversas rolando soltas. Tínhamos uma alemão recém-chegado ao Brasil, um outro estreando um bigode. Um poeta que também é fotógrafo mas estavam sem a máquina. Duas judias, uma infinidade de gays. Um cearense, dois gaúchos. Um dentista (e eu com uma baita dor-de-dente). Nenhum casado, mais uns dois ou três comprometidos. Um que morou em Berlin e, felizmente, falava alemão. Uma que já dou o mundo lavando pratos. Uma que toca violão, faz poesia e cospe fogo. Alguém que trouxe 12 latinhas de cerveja e não tomou nenhuma (que ficaram na geladeira e eu simplesmente não seio que fazer, pois quase ninguém na turma bebe cerveja e eu só utilizo a loirinha para fazer frango assado -- mas com esta quantidade de latas de cerveja, vou ter que abrir uma rotisseria para dar conta de assar tantos frangos. Se bem que, dizem, tem gente que gosta muito de "frango assado").
A noite está friazinha, ideal para se ficar em casa com amigos. A Regiana, improvisou e deu uma de "noiva": chegou uma hora mais tarde que o combinado. O problema é que já estávamos pensando em pedir umas pizzas, pois além de ser a principal personagem da noite, a mocinha ainda era a portadora dos salgadinhos, que não sabiam chegar em casa sozinhos. Mas valeu a espera: a moça estava linda em um vestido preto meio vaporoso, usando uma meia fina com liga na altura da coxa: um desbunde. Distribuiu sorrisos como quem distribui flores na avenida, encantando a todos.
O bolo foi feito a 6 mãos e não deu o vexame esperado: eu, Jorge Dentista e Vitória -- o que poderia significar uma verdadeira tragédia. Mas os anjos estavam de plantão e bolo até que ficou bonitinho e gostosinho.
Se bem me lembro, estavam lá: Ivan, Jorge, Vicente, Marcos, César, Cláudio, Hans, Martin, Jader, Léa, Sandra (e amiga), Beto, Paula, Cibele, Ana, Rachel, Rejane, Davilson, José Carvalho, Lobinho, Paula, Cristina, Robson, Juan, Vitória, Regiana e eu. Será que me esqueci de alguém? Todos apertados em um apartamentinho de 47 metros quadrados...
Tentamos ligar para o Felipe, em Maringá, pois também era aniversário dele, mas não conseguimos contato.
Ainda tinha a história das malas de viagem, motivo inincial da reunião. E que renderam discussões acaloradas. Em suma: Regiana abriu a mala e pudemos ver o que uma marinheira-de-primeira viagem pensa a respeito de bagagem. Quer saber de uma coisa? Até que ela foi econômica. Eu imaginava-a incluindo o travesseiro de estimação, uma caneca de café e todos os pares de meias de lã. E todas as fotos da Eid (a cachorra). Mas tenho sérias dúvidas se uma tal boneca de pano vai viajar... O mais inusitado foi convencer a Regiana a respeito do peso das malas, que não varia em função das mãos que a segurem: completamente impublicável. Quem não assistiu não vai acreditar. E quem assistiu também não acreditou.
E no final, como tudo naquele apartamento, terminamos comendo mesmo uma pizza.
Na foto, o Quarteto das Risadas: Regiana, Cibele, Rachel (minha mulher) e eu.
Léo One
O Léo
à Giulia
Léo One é um bom leão. Ele sorri o tempo todo, de manhã até a noite: nunca fica bravo. Ele escova os dentes sozinho, gosta das crianças, só come vegetais, lê historinhas para os irmãozinhos mais novos e adora sorvete de chocolate. Léo One é um bom leão, mas tem um probleminha: a juba dele ainda é muito pequena, pois ele é um jovem leão. Ele sonha com o dia no qual terá uma vasta cabeleira. E sabe por que? Porque o sonho de Léo One é ter uma banda de reggae e ser o único leão rastafári da floresta.
Jorge de Lima
São Paulo, 15/09/2008
à Giulia
Léo One é um bom leão. Ele sorri o tempo todo, de manhã até a noite: nunca fica bravo. Ele escova os dentes sozinho, gosta das crianças, só come vegetais, lê historinhas para os irmãozinhos mais novos e adora sorvete de chocolate. Léo One é um bom leão, mas tem um probleminha: a juba dele ainda é muito pequena, pois ele é um jovem leão. Ele sonha com o dia no qual terá uma vasta cabeleira. E sabe por que? Porque o sonho de Léo One é ter uma banda de reggae e ser o único leão rastafári da floresta.
Jorge de Lima
São Paulo, 15/09/2008
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Paisagem da janela
Acabei de ouvir a música “Paisagem da janela” -- parece-me que letra e música são do Milton Nascimento. Mas eu acho que a versão que tocou era do Lô Borges (ou do Flávio Venturini). Não importa. O fato é que, involuntariamente, um sentimento nostálgico me transportou para um dos momentos mais mágicos da minha vida: minha primeira paixão (enquanto adulto). Foi rápida, intensa e didática. Foi por um cara mais do que especial, verdadeiramente enviado por Deus. Eu estava mergulhado no ponto mais profundo do oceano das dúvidas existenciais. Então, o inundei de perguntas, de questões, de dúvidas, de curiosidades. Recebi, de volta, carinho e atenção desmedidos. E uma enooooorme paciência. E o que Lô Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes, Flávio Venturini têm a ver com isso? Bom, a despeito de serem do Clube da Esquina ou do 14 Bis, eles todos estavam reunidos, na forma de antigas fitas cassetes, numa caixa de SEDEX que chegou-me num mês de fevereiro, lá no longínquo 1997. Tantas foram as vezes que ouvi aquelas fitas cassetes que as músicas se tornaram verdadeiras tatuagens. Naquele tempo a paixão era mais simples: bastava a existência do outro. Hoje, são tantos detalhes, tantas condições. Depois de um certo tempo, depois de um certa idade, apaixonar-se se transformou em algo para os outros: os jovens. Mas ainda resta o amor, condição de maduros.
Semana de Artes - Fotos - Aço
Aço
a Bruno Vasconcelos
A enorme lança metálica apontada para a Lua
ameaça o Dragão infeliz,
enquanto Jorge e seu Cavalo selenita
passeiam pela Avenida Paulista
-- distraídos e contentes.
E a Princesa?
A Princesa está assistindo TV na casa da vizinha.
Jorge de Lima
São Paulo, 11 de setembro de 2008
Semana de Artes - Fotos - Verde
Verde
a Bruno Vasconcelos
A palavra pingou no papel,
desvirginando-se em multi-sons:
pássaros, grilos, pequenos roedores
— a extrema doçura das abelhas fazendo mel.
Gota a gota a natureza derrama-se
em frente à lente digital
— e o fotógrafo, no eletrônico click,
torna-se poeta sem igual.
Jorge de Lima
São Paulo, 11 de setembro de 2008
a Bruno Vasconcelos
A palavra pingou no papel,
desvirginando-se em multi-sons:
pássaros, grilos, pequenos roedores
— a extrema doçura das abelhas fazendo mel.
Gota a gota a natureza derrama-se
em frente à lente digital
— e o fotógrafo, no eletrônico click,
torna-se poeta sem igual.
Jorge de Lima
São Paulo, 11 de setembro de 2008
Semana de Artes - Fotos - Por um fio
Por um fio
a Bruno Vasconcelos
O silêncio instala-se aos poucos, pelas bordas.
Envolve, faz adormecer.
O silêncio é um som triste, miúdo
-- uma palavra que não quer ser dita,
apenas sentida.
O silêncio não destrói, não apaga, não traduz.
O silêncio, às vezes, é apenas uma longa e solitária
espera.
Jorge de Lima
São Paulo, 11 de setembro de 2008
Semana de Artes da USP
Estamos nos preparando para a Semana de Artes da USP. Neste ano, estarei viajando durante o evento. Mas participarei em duas frentes. Com o Grupo Éramos 12, numa apresentação performática que inclui música, imagens e textos, e com o aluno de pós-graduação e excelente fotógrafo Bruno Garcia. Para o Éramos 12 fui convidado a escrever um texto que falasse da chegada do europeu ao Brasil, da sua tentativa de escravizar o índio e da substituição do elemento indígena pelo negro africano no processo de mão-de-obra escrava. Escrevi o que segue:
Aula de História
a Éramos 12
Quando o europeu chegou, o índio o recebeu de braços abertos: foi amigo, foi gentil, foi bom anfitrião.
A terra era grande e muita, cabia a todos -- e todos eram irmãos.
Mas o branco europeu não queria amigos, não amava a terra, não queria comunhão.
Só pensava em dinheiro, só pensava em lucro, só queria servidão.
O índio percebeu, resistiu, muito lutou, muito morreu, mas não aceitou submissão.
O europeu não foi fácil, não desistiu, não: insistiu e perseguiu -- e criou muita confusão.
Porém, viu que o índio era livre e buscou outra solução.
Atravessou os mares e, sem respeito e sem compaixão, prendeu o negro africano e reinventou a escravidão.
Triste, de longe, com dor no coração, o índio aprendeu desiludido uma preciosa lição:
selvagem não era o índio -- selvagem era a civilização.
Jorge de Lima
Aula de História
a Éramos 12
Quando o europeu chegou, o índio o recebeu de braços abertos: foi amigo, foi gentil, foi bom anfitrião.
A terra era grande e muita, cabia a todos -- e todos eram irmãos.
Mas o branco europeu não queria amigos, não amava a terra, não queria comunhão.
Só pensava em dinheiro, só pensava em lucro, só queria servidão.
O índio percebeu, resistiu, muito lutou, muito morreu, mas não aceitou submissão.
O europeu não foi fácil, não desistiu, não: insistiu e perseguiu -- e criou muita confusão.
Porém, viu que o índio era livre e buscou outra solução.
Atravessou os mares e, sem respeito e sem compaixão, prendeu o negro africano e reinventou a escravidão.
Triste, de longe, com dor no coração, o índio aprendeu desiludido uma preciosa lição:
selvagem não era o índio -- selvagem era a civilização.
Jorge de Lima
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
13ª SEMANA DE ARTE E CULTURA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
13ª SEMANA DE ARTE E CULTURA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
DE 22 A 26 DE SETEMBRO DE 2008
Local: Av. Prof. Lineu Prestes, 580 – Cidade Universitária – Butantã – Bloco 13 A – andar superior
Grátis
XX Salão de Artes
EXPOSITORES
Bruno Garcia Vasconcelos, Djanira Pereira Canzian, Edna Batista Lima, Irene A. Machoshvili,
Isabel Cristina Bossi Alves, Ivan Alejandro Ávila León, Jorge Alves de Lima, Joás Lucas da Silva,
Márcia Nascimento de Moraes, Maria Inês Rocha Miritello Santoro, Miriam Lopes, Rafael
Vergaças Mangisesti e Sady Carlos de Souza Junior.
Intervalos Musicais
DIA 22 • Segunda-felra
12:30 h – Show Chegança! – Amanda Ribeiro e Vinicius Medrado
(Harpa, gaita, violão, violino e percussão)
DIA 23 • Terça-feira
12:30 h – Banda SalaMantra (samba, bossa nova, baião, xote, MPB)
13:20 h – Recital de Piano - Marina Maluli
DIA 24 • Quarta·feira
12:30 h – Grupo “Éramos Doze” – Da Terra de Ninguém à Conquista da Terra Prometida,
pelo grande, pelo mais que super, pelo HIPER-HERÓI-BRASILEIRO (MPB e Afins)
DIA 25 • Quinta·feira
12:30 h - Coral Yapapá (Diversos) - Regente: Carolina Borba
12:50 h – Recital de Harpa - Vinicius Medrado (MPB, World Music e Música Instrumental)
13:20 h – Gledson Manso Guimarães e Miriam Lopes (Violão e Voz)
DIA 26 • Sexta-feira
12:30 h – Carla Ap. G. dos Santos e Gustavao Ceregatti
(Diversos: MPB, Pop, Rock, Axé...)
13:15 h - Coral Encant'HUs - (Música Brasileira)
Regente: Elisséia Claudia V. Duarte
Organização: Comissão de Cultura e Extensão da FCF/USP
Informações: 11-3091-3677 / dpv@usp.br
DE 22 A 26 DE SETEMBRO DE 2008
Local: Av. Prof. Lineu Prestes, 580 – Cidade Universitária – Butantã – Bloco 13 A – andar superior
Grátis
XX Salão de Artes
EXPOSITORES
Bruno Garcia Vasconcelos, Djanira Pereira Canzian, Edna Batista Lima, Irene A. Machoshvili,
Isabel Cristina Bossi Alves, Ivan Alejandro Ávila León, Jorge Alves de Lima, Joás Lucas da Silva,
Márcia Nascimento de Moraes, Maria Inês Rocha Miritello Santoro, Miriam Lopes, Rafael
Vergaças Mangisesti e Sady Carlos de Souza Junior.
Intervalos Musicais
DIA 22 • Segunda-felra
12:30 h – Show Chegança! – Amanda Ribeiro e Vinicius Medrado
(Harpa, gaita, violão, violino e percussão)
DIA 23 • Terça-feira
12:30 h – Banda SalaMantra (samba, bossa nova, baião, xote, MPB)
13:20 h – Recital de Piano - Marina Maluli
DIA 24 • Quarta·feira
12:30 h – Grupo “Éramos Doze” – Da Terra de Ninguém à Conquista da Terra Prometida,
pelo grande, pelo mais que super, pelo HIPER-HERÓI-BRASILEIRO (MPB e Afins)
DIA 25 • Quinta·feira
12:30 h - Coral Yapapá (Diversos) - Regente: Carolina Borba
12:50 h – Recital de Harpa - Vinicius Medrado (MPB, World Music e Música Instrumental)
13:20 h – Gledson Manso Guimarães e Miriam Lopes (Violão e Voz)
DIA 26 • Sexta-feira
12:30 h – Carla Ap. G. dos Santos e Gustavao Ceregatti
(Diversos: MPB, Pop, Rock, Axé...)
13:15 h - Coral Encant'HUs - (Música Brasileira)
Regente: Elisséia Claudia V. Duarte
Organização: Comissão de Cultura e Extensão da FCF/USP
Informações: 11-3091-3677 / dpv@usp.br
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Ainda as gavetas
Substância
a R.
Teu corpo nu não rima
com a luz da lua no inverno
mas desejo-te retido entre minhas mãos
nas noites mais frias.
Fazes parte do meu céu feito estrela e feito Deus.
Tua forma sublime não se sustenta
no mármore branco e grego.
Mas, em segredo,
és minha estátua preferida.
Fazes parte da história como o livro e o relógio.
Tua voz rouca não foge ao som do trovão mais forte.
E eu ouço-te atento
enquanto persigo teu rastro
-- enquanto procuro o meu silêncio.
Fazes parte do meu verbo feito sílaba e flexão.
Teu olhar marujo não se afoga no colo de ninfas mulheres.
Enquanto eu,
com braçadas precavidas,
navego-te em cabotagem.
Fazes parte do meu mar como a onda azul e o horizonte.
Teu sono viril não aceita afago frágil e maternal
mas meu toque retém-se distraído nas franjas dos teus sonhos.
Fazes parte do mistério da vida feito cruz e feito espírito.
Teus braços alados te lançam em vôos errantes
e eu te perco todas as manhãs no vácuo do Universo.
Fazes parte da minha fome feito água e feito pão.
Fazes parte de tudo
e em tudo há um pouco de ti:
no pó do deserto,
nas gotas da chuva,
nos meus receios,
no instante,
nas vírgulas dos textos,
na sombra das árvores,
nas cordas do violão,
na tarde de sol,
nos cartões postais do mundo inteiro,
nos beijos,
na despedida,
nas lembranças de Piabetá,
no intervalo,
no perdão.
No esquecimento ou no sorriso.
Teu corpo,
tua forma,
teu olhar,
teu sono,
teus braços:
fazes parte do tudo que se sustenta
dentro de cada pensamento meu,
dentro de cada vontade minha
-- perdida e reencontrada
todos os dias.
a R.
Teu corpo nu não rima
com a luz da lua no inverno
mas desejo-te retido entre minhas mãos
nas noites mais frias.
Fazes parte do meu céu feito estrela e feito Deus.
Tua forma sublime não se sustenta
no mármore branco e grego.
Mas, em segredo,
és minha estátua preferida.
Fazes parte da história como o livro e o relógio.
Tua voz rouca não foge ao som do trovão mais forte.
E eu ouço-te atento
enquanto persigo teu rastro
-- enquanto procuro o meu silêncio.
Fazes parte do meu verbo feito sílaba e flexão.
Teu olhar marujo não se afoga no colo de ninfas mulheres.
Enquanto eu,
com braçadas precavidas,
navego-te em cabotagem.
Fazes parte do meu mar como a onda azul e o horizonte.
Teu sono viril não aceita afago frágil e maternal
mas meu toque retém-se distraído nas franjas dos teus sonhos.
Fazes parte do mistério da vida feito cruz e feito espírito.
Teus braços alados te lançam em vôos errantes
e eu te perco todas as manhãs no vácuo do Universo.
Fazes parte da minha fome feito água e feito pão.
Fazes parte de tudo
e em tudo há um pouco de ti:
no pó do deserto,
nas gotas da chuva,
nos meus receios,
no instante,
nas vírgulas dos textos,
na sombra das árvores,
nas cordas do violão,
na tarde de sol,
nos cartões postais do mundo inteiro,
nos beijos,
na despedida,
nas lembranças de Piabetá,
no intervalo,
no perdão.
No esquecimento ou no sorriso.
Teu corpo,
tua forma,
teu olhar,
teu sono,
teus braços:
fazes parte do tudo que se sustenta
dentro de cada pensamento meu,
dentro de cada vontade minha
-- perdida e reencontrada
todos os dias.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Ato institucional
Ato institucional
É proibido ser feliz sem sexo.
Os infratores serão multados. Os reincidentes serão presos. Os resistentes serão sumariamente ridicularizados. E os apaixonados serão esquecidos.
Jorge de Lima
S. Paulo, 14/09/2006
É proibido ser feliz sem sexo.
Os infratores serão multados. Os reincidentes serão presos. Os resistentes serão sumariamente ridicularizados. E os apaixonados serão esquecidos.
Jorge de Lima
S. Paulo, 14/09/2006
Mais gavetas, mais poemas
Ainda provisório
a R. Dias
Teu nome tirou da minha boca o gosto dos outros: o cheiro, a pele, os pêlos, as mãos. O talo. Todos invisíveis sob tua sombra. Fechei meus lábios para te ver melhor, na distância sem canção daqueles dias. Teu corpo roubou dos meus olhos a cor das muitas nuas noites, restando-me as horas quase úmidas que passamos juntos: a cama tola, a velha vizinha intrusa, o pai no quarto ao lado sem a mãe por perto, as frases esparramadas pelo chão. Teus lábios te esconderam de mim e enraizado nos meus medos e desejos, cruzei meus braços sobre o peito e repeti-me, silencioso e obediente: “te amo pelo que você não é”.
E, de tudo, restou a palavra “não”: inútil e não pronunciada. E eu, para me perdoar provisoriamente, te esqueci neste poema. Ainda.
Jorge de Lima
São Paulo, 15/11/2006
a R. Dias
Teu nome tirou da minha boca o gosto dos outros: o cheiro, a pele, os pêlos, as mãos. O talo. Todos invisíveis sob tua sombra. Fechei meus lábios para te ver melhor, na distância sem canção daqueles dias. Teu corpo roubou dos meus olhos a cor das muitas nuas noites, restando-me as horas quase úmidas que passamos juntos: a cama tola, a velha vizinha intrusa, o pai no quarto ao lado sem a mãe por perto, as frases esparramadas pelo chão. Teus lábios te esconderam de mim e enraizado nos meus medos e desejos, cruzei meus braços sobre o peito e repeti-me, silencioso e obediente: “te amo pelo que você não é”.
E, de tudo, restou a palavra “não”: inútil e não pronunciada. E eu, para me perdoar provisoriamente, te esqueci neste poema. Ainda.
Jorge de Lima
São Paulo, 15/11/2006
Limpando gavetas de novo - Primavera
.
Pré-estréia
à Regiana Santos
Instintivamente,
as raízes percorrem seus escuros caminhos.
Os pássaros ensaiam seus cantos.
Os bichos buscam seus pares.
Silenciosamente,
O sol desenha o equinócio
e o céu se debruça sobre a terra
em expectativas de folião
às vésperas do Carnaval.
O frio dá lugar à cor.
Os ventos engravidam-se de perfume.
A brisa torna-se um banho fresco.
O Inverno parte, discreto.
E a nova estação chega,
feito uma Escola de Samba.
Mas,
houve uma vez diferente de todas
quando, repentinamente,
o cinza foi vencido pelo sorriso.
Era 1971.
Era 13 de setembro.
E a Primavera chegou mais cedo,
trazendo, confiante,
sua primeira flor.
Jorge de Lima
São Paulo, 13/09/2007.

.
.
.
.
.
.
.
Pré-estréia
à Regiana Santos
Instintivamente,
as raízes percorrem seus escuros caminhos.
Os pássaros ensaiam seus cantos.
Os bichos buscam seus pares.
Silenciosamente,
O sol desenha o equinócio
e o céu se debruça sobre a terra
em expectativas de folião
às vésperas do Carnaval.
O frio dá lugar à cor.
Os ventos engravidam-se de perfume.
A brisa torna-se um banho fresco.
O Inverno parte, discreto.
E a nova estação chega,
feito uma Escola de Samba.
Mas,
houve uma vez diferente de todas
quando, repentinamente,
o cinza foi vencido pelo sorriso.
Era 1971.
Era 13 de setembro.
E a Primavera chegou mais cedo,
trazendo, confiante,
sua primeira flor.
Jorge de Lima
São Paulo, 13/09/2007.
Assinar:
Postagens (Atom)