Ainda provisório
a R. Dias
Teu nome tirou da minha boca o gosto dos outros: o cheiro, a pele, os pêlos, as mãos. O talo. Todos invisíveis sob tua sombra. Fechei meus lábios para te ver melhor, na distância sem canção daqueles dias. Teu corpo roubou dos meus olhos a cor das muitas nuas noites, restando-me as horas quase úmidas que passamos juntos: a cama tola, a velha vizinha intrusa, o pai no quarto ao lado sem a mãe por perto, as frases esparramadas pelo chão. Teus lábios te esconderam de mim e enraizado nos meus medos e desejos, cruzei meus braços sobre o peito e repeti-me, silencioso e obediente: “te amo pelo que você não é”.
E, de tudo, restou a palavra “não”: inútil e não pronunciada. E eu, para me perdoar provisoriamente, te esqueci neste poema. Ainda.
Jorge de Lima
São Paulo, 15/11/2006
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