Farael e as rodas tristes
Em uma pequena cidade litorânea, chamada
Nhataiém, aconteceu de o jovem Farael tropeçar em uma roda. Na verdade, não era
bem uma roda: parecia mesmo que era a parte da frente de uma bicicleta, pois
havia a roda e também o guidão. Farael ficou entusiasmado, pois ele ia triste
para escola todos os dias, a pé e sem nenhuma companhia. Procurou a parte de
trás da bicicleta, mas não encontrou nada ali por perto. Discretamente, Farael
reparou que a roda estava chateada. Percebeu, também, que era um tipo de roda
que não gostava muito de conversar.
– Provavelmente estava triste por
não ter a sua irmã roda junto dela – pensou Farael.
Então, ele não puxou conversa,
mas trouxe a roda junto com ele, chamando-a de Maria Roda. Ela pareceu gostar,
pois não reclamou nas diversas vezes que ele a chamou por esse nome.
A partir daquele dia, ele e Maria
Roda iam juntos para todos os lugares.
Por isso, ela estava com Farael
quando ele fora a casa da sua tia-avó Libanita Vitorinesa. Antes de chegar,
passando pelo mesmo caminho que ele sempre passava, Farael reparou em um
estranho lago, que nunca estivera ali antes.
Aproximou-se e percebeu que o
lago era ainda mais estranho de perto: parecia que toda sua água era feita de
lágrimas... Não demorou e Farael ouviu uns choramingos bem baixinhos. Olhou bem
a sua volta e não viu ninguém. Foi Maria Roda que percebeu e chamou-lhe
atenção: o choro vinha do meio do lago, onde estava uma roda de bicicleta aos
prantos. E não era uma simples roda, não: era mesmo a parte de trás de uma
bicicleta!
O rapaz aproximou-se um pouco e
perguntou à roda por que ela chorava tanto e também quis saber como era o seu
nome. Entre soluços e lágrimas, ela disse que não tinha um nome, mas ouvia as
pessoas que passavam chamarem-na de Roda Mole, pois ela era muito molenga e
chorava por qualquer coisa.
– Porém, não era verdade! – disse
ela. E explicou que chorava por um motivo bem triste: certo dia, sua dona havia
caído de uma encosta e morrido justamente quando elas estavam passeando. O
noivo da falecida, o grande e forte Jucas, ficou tão triste que partiu a
bicicleta em dois pedaços, jogando-os longe um do outro. Por causa disso, ela
agora estava sem dona e também sem sua irmã roda.
Só depois que falou isso é que a
roda chorona ergueu os olhos para saber com quem estava conversando. Viu Farael
e, ao lado dele, Maria Roda – que já não estava mais triste, pois tinha certeza
de que elas eram irmãs. Farael, que não era nenhum bobo, também já tinha
percebido.
Então, ele mergulhou no lago,
alcançou a Roda Mole e seguiu com as duas para a casa da sua tia-avó Libanita.
A vovó Libanita tinha uma caixa de costura mágica. Ela tricotou uma cordinha e
amarrou as duas rodas que, juntas, voltaram a ser uma bicicleta. Quer dizer,
uma bicicleta um pouco diferente, pois ela se dobrava exatamente na altura da
costura. O único que sabia usar a bicicleta era Farael, que passou a chamá-la
de Maria Mole, pedalando-a todos os dias ao ir feliz para a escola...
Moral da história: quem tem amigos não tem tristeza longa.
Jorge de Lima,
Itanhaém. 12/10/2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário