Mamãe Geny
à família Ribeiro
Eu sempre trouxe comigo aqueles
saborosos almoços dos domingos da minha juventude. Lembrar-me deles significava
uma agradável aventura da memória por seus olfativos labirintos, nos quais os
aromas e as cores e as vozes se misturavam num maravilhoso tempero de mãe –
juntamente com a tocante presença de um secador de cabelos, que tornavam aquela
pequena cozinha na mais singular cozinha do planeta Terra. Agora, à mente, vem
a certeza de não mais viver aqueles domingos divinais. A certeza de que as
portas daquela elástica cozinha, na qual cabiam muitos filhos adotados
semanalmente, se fecharam neste mundo. Agora, todos aqueles sabores se
congelaram nas papilas da memória, eternizaram-se num adeus distante, posto a
pandemia, e sutilmente doloroso. Agora, este mundo, já tão frio e áspero, ficou
também sem açúcar e sem afeto.
Jorge de Lima
Itanhaém, 22 de abril de 2020.
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