UNIVESP
– Curso de Pedagogia
Disciplina: Educação Mediada por
Tecnologias I
Semana
1 - Visão histórica das tecnologias na Educação
joralimaTEXTO
Os
objetivos dessa semana são:
Entender
o que é tecnologia educacional;
Compreender
a função da tecnologia quando incorporada na educação.
Vídeo-base
1
Filme
de animação, sem diálogos, mostra a evolução da tecnologia a serviço da
educação, desde as pinturas rupestres até a internet móvel.
Vídeo-base
2
Psicologia da Aprendizagem - Aula 11 - O
desafio de reinventar a escola
Profa.
Silvia M. Gasparian Colello
Mudanças.
Segundo
Castells, no texto “La era de la información: economia, sociedade y cultura” (1994),
estamos diante de uma mudança de época e não de uma época de mudanças.
Gomez
(no livro: “Educação na era digital”, 2015) divide o desenvolvimento da
humanidade em quatro ciclos básicos:
Idade da pedra (até 6.000 a.C.).
Sobrevivência
Época agrícola (6.000 a.C. até
século XVIII). Agricultura, pecuária, intercâmbio comercial.
Era industrial (século XVIII até
século XX). Produção fabril. Revolução industrial.
Era da informação (1975 até os dias
atuais). Sistemas de informação
A Era
da Tecnologia, contudo, não resolveu contradições, desigualdades sociais e
ainda fez surgirem novas diferenças/dificuldades.
Na
escola, há convivência com diferentes realidades. Há necessidade de reinventar
a escola.
Dois
eixos: extraescolar (a sociedade); escolar (a própria escola).
Extraescolar
Novos
modos de aprender e se relacionar com a informação
Novos
recursos e novas tecnologias
Novos
apelos sociais e do mercado de trabalho
Escolar
Fracasso
escolar e elitização dos bens culturais
Desafio
de inclusão e inserção no mundo letrado
Luta
por escola democrática e de qualidade
Dois
caminhos possíveis para reinventar a escola:
1.
Revisão das concepções (quem é esse novo aluno), conteúdos (o que ensinar para
ele) e práticas (como ensinar).
2.
Apropriação tecnológica na prática educacional.
Como
reinventar a escola
Princípios:
qualidade no lugar de quantidade de informação
Meios:
trocar transmissão do conhecimento por construção do conhecimento (metodologias
ativas). Criar oportunidades de o próprio aluno chegar ao conhecimento.
Metas:
formação ampla acima de cumprimento de programas de ensino (menos passar
conteúdos e conceitos e mais preparar para o mundo)
Fonte:
Colello, SMG. “Para onde vai a reforma curricular brasileira?”, 2001.
Ruben
Alves
“Nada
mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas...”.
Vídeo
de apoio 1
A História da Tecnologia na Educação
A
ciência de hoje é a tecnologia de amanhã (Edward Teller).
Filme
de animação, sem diálogos, com legendas em inglês, mostra a evolução da
tecnologia a serviço da educação, desde as pinturas rupestres até a internet
móvel.
Vídeo
de apoio 2
As novas tecnologias em sala de aula
Série
“Sua Escola Nossa Escola”.
Qual
a importância das novas tecnologias em sala de aula?
Diversos
especialistas respondem:
Importante
pensar em que projeto de educação as tecnologias serão usadas. Precisa se
apropriar das novas tecnologias para encontrar eco nos alunos. A tecnologia é
um dos componentes, não sendo o único elemento. A formação docente e o trabalho
colaborativo também fazem parte do processo educacional. As tecnologias devem
funcionar como apoio/mediação. Usar as tecnologias para gerar pensamento
crítico nos alunos.
Como
motivar os docentes para o uso das tecnologias?
Diversos
especialistas respondem:
Usar
para melhorar a aula, para melhorar sua capacitação profissional, seu currículo
profissional. Incentivar docentes a utilizar as disponibilidades de tecnologia
presentes na escola (sala de vídeo, laboratório, sala de multimeios): os
gestores são fundamentais para tornar esses recursos acessíveis ao professor. Apresentar
os recursos e treinar para utilizá-los. Depois, provocar a inovação (como fazer
algo novo com os recursos). Para não precisar repetir as aulas. Não há
justificativa para se ensinar hoje do mesmo modo que se ensinava há 50 anos. O
mundo mudou, a sociedade está mudando: a escola tem que mudar.
Vídeo
de apoio 3
Criatividade, Tecnologia e Educação –
Novas possibilidades de aprendizagem
Filme
de animação, sem diálogos, com legendas em português.
Criatividade
+ tecnologia + inovação = aprendizagem significativa.
O
que é criatividade?
É se
colocar em um estado diferente do habitual, deixando seu cérebro criar novas
ideias e buscar alternativas diferenciadas. Isto se chama inovação.
Mas
como ser inovador em educação?
Utilizando
ferramentas eficientes que auxiliem no processo de aprendizagem. São as
chamadas mídias da educação.
O
uso dessas ferramentas depende da criatividade e dos objetivos que são
propostos para cada aprendizagem.
Os
sons, as cores, as texturas, as diferentes interpretações de uma mesma imagem:
tudo isto funciona como elemento diferencial que possibilita aprender com
facilidade.
Assim,
as mídias se tornam aliadas dos processos educacionais quando usadas com
eficiência e criatividade.
Vídeo
de apoio 4
Educação em rede
Filme
de animação, sem diálogos, com legendas em português, mostra que a tecnologia
chegou à escola, mas a educação [não] mudou: no lugar da lousa, o computador,
mas a mesma relação passiva dos alunos. Com imagens, mostra um caminho
diferente até concluir que, conectados com o mundo, aprendemos em rede.
Fichamento
dos textos
1.
Educacão a distância e inovacão
tecnológica
Maria
Luiza Belloni - Professora do Centro de Ciências da Educação da Universidade
Federal de Santa Catarina e pesquisadora do CNPq. Doutora em Ciências da
Educação pela Universidade René Descartes (Paris V). .
In Trabalho, Educação e Saúde, v. 3 n. 1, p. 187-198, 2005.
Educação a distância como modo regular de
ensino
“Estudos
teóricos e análises de experiências de EaD vêm demonstrando que, na maioria dos
países, delineiam-se claramente duas macrotendências: por um lado, a
convergência dos dois ‘paradigmas’ de ensino (presencial e a distância), em
decorrência de transformações sociais, sobretudo no mercado de trabalho; e, por
outro, a integração das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) à vida
cotidiana e aos processos culturais e comunicacionais, criando novas
necessidades e demandas educacionais e exigindo novos modos de organizar e
ofertar o ensino” (p.188). “Vivemos em sociedades radicalmente modernas,
globalizadas, nas quais reinam condições de produção econômica ditas
pós-fordistas e pós-industriais, legitimadas por uma ideologia neoliberal que
coloca toda a responsabilidade de sucesso no indivíduo” (p. 188). “Neste quadro
de mudanças, já não se pode considerar a educação a distância apenas um meio
para solucionar problemas emergenciais ou para remediar alguns fracassos do
sistema educacional em dado momento de sua história. A EaD tende, doravante, a
se tornar cada vez mais um elemento regular e necessário dos sistemas
educativos, não apenas para atender a demandas ou grupos específicos, mas também
para desempenhar funções de crescente importância, especialmente no ensino
pós-secundário, ou seja, na educação da população adulta, o que inclui o ensino
superior regular e toda a grande e variada demanda de formação contínua gerada
pela obsolescência acelerada da tecnologia e do conhecimento” (p. 189). “Não significa
necessariamente que a educação seja orientada para as exigências do mercado. Ao
contrário, em uma concepção ideal, a formação continuada deve estar voltada
para as demandas do indivíduo emancipado, capaz de competir no mercado, não
porque foi treinado para isto, mas justamente porque é emancipado e, portanto,
capaz de agir politicamente, ou seja, como cidadão e profissional, capaz de
agir de modo competente em situações novas e complexas (Carmo, 1997; Perriault,
1996; Bates, 1990)” (p. 189) “Estas mudanças geram, no campo da EaD, uma
tendência à ‘educação aberta’, ou seja, a uma maior flexibilidade na definição
de cursos e carreiras, nos critérios de ingresso e nas metodologias de ensino,
bem como uma maior ênfase nas situações de aprendizagem e, portanto, nas
estratégias de atendimento ao estudante, baseadas no uso adequado de uma combinação
inteligente das diferentes tecnologias de informação e comunicação (Peters,
1983; Field, 1995; Campion, 1995; Belloni, 1999)” (p. 189). “Deve-se
compreender a EaD como um tipo distinto de oferta educacional, que exige
inovações ao mesmo tempo pedagógicas, didáticas e organizacionais. Os
principais elementos constitutivos que a diferenciam da modalidade presencial
são a ‘descontiguidade’ espacial entre professor e aluno, a comunicação
diferida (separação no tempo) e a mediação tecnológica, característica fundamental
dos materiais pedagógicos e da interação entre o aluno e a instituição” (p.
190). “Cabe ressaltar que um dos indicadores mais seguros da qualidade da
educação oferecida é sua adequabilidade não às demandas do mercado, mas às
aspirações profissionais dos estudantes. Quando a instituição escolar, em todos
os seus níveis, fizer claramente esta sutil distinção, ganhará certamente em
resultados positivos. A centralidade do estudante no processo educacional é
fundamental e na EaD esta consideração é essencial” (p. 191).
Tecnologias de Informação e Comunicação e
inovação educacional
“É
fundamental deslocar o eixo da discussão da ‘modalidade’ para o ‘método’, ou
seja, das formas de organização da oferta de ensino para os modos de ensinar e
aprender, utilizando os novos artefatos que os avanços tecnológicos colocam à
disposição da sociedade” (p. 191). “A educação a distância tem, pois, de ser
compreendida a partir de uma perspectiva mais ampla: a da integração das TIC
nos processos educacionais, como meio de democratizar o acesso a uma verdadeira
formação emancipatória. Considerada a partir desta perspectiva mais ampla, a
EaD é apenas uma das modalidades possíveis de oferta de ensino e de formação
profissional, e o fundamento da educação deve ser a pesquisa, com o objetivo de
aprender a aprender” (p. 192). “Como ferramenta, o meio técnico é um instrumento
didático e pedagógico, a serviço do professor e do aluno naquele processo. Como
objeto de estudo, ele é uma oportunidade de formação do usuário crítico, competente
e criativo, tanto para o estudante quanto para o professor” (p. 192). “É
imprescindível levar em conta que o uso adequado das TIC promove e exige uma
abordagem interdisciplinar da educação, pois requer que o professor domine o
uso das ferramentas e trabalhe coletivamente com profissionais de diferentes
áreas” (p. 193). “É preciso não esquecer que
educação e tecnologia sempre caminharam juntas (a socialização das crianças
inclui sua preparação para o uso das técnicas disponíveis na sociedade) e que
as técnicas devem ser consideradas como meios e não como conteúdos de educação
e, por consequência, que a informática e as TIC não são disciplinas, mas
instrumentos a serem integrados em sua dupla dimensão de objetos de estudos e
de ferramentas pedagógicas. Uma proposta de EaD adequada deveria, então,
integrar, em um conjunto coerente e consistente de materiais e estratégias,
conteúdos e metodologias de ensino que levassem em consideração as seguintes
grandes variáveis, cujas características fundamentais são: autonomia do aluno
adulto, capaz de gerir seu próprio processo de aprendizagem; novas funções e
características do professor (transformação da função docente de rotineiramente
individual em necessariamente coletiva); mediatização intensiva do processo de
ensino e aprendizagem, com a integração cada vez maior dos meios de informação
e comunicação digitalizados e teletransmissores; e flexibilidade institucional
e pedagógica, o que requer muita inventividade e instituições competentes e
não-corporativas” (p. 193). “A tendência
mais fortemente estabelecida indica maior adequabilidade da EaD para indivíduos
adultos e para o ensino pós-secundário, bem como sua inadequabilidade para
populações infantis e para a educação básica. Experiências bem-sucedidas de
educação popular (campanhas de esclarecimento sobre direitos civis, saúde,
trabalho etc.) revelam que a EaD pode obter ótimos resultados sempre que o tema
seja de interesse da população-alvo e que a linguagem e os meios técnicos
utilizados sejam apropriados (Belloni, 2002a)” (p. 193-194). “É preciso, com
efeito, evitar este deslumbramento que leva ao uso de inovações tecnológicas como
um fim em si mesmo. Em geral, as novas tecnologias não substituem nem o
professor, de quem seu uso exige esforços renovados de atualização, nem as
tecnologias antigas, às quais se acrescentam não como meros instrumentos neutros
a serviço de velhas metodologias, mas como meios inovadores suscetíveis de
contribuir para o aperfeiçoamento e enriquecimento dos sistemas educacionais
presenciais, a distância ou em qualquer outra modalidade de educação
(Perriault, 1996; Trindade, 1991 e 1992)” (p. 194). “Não podemos perder de
vista que a razão principal do uso educativo de um meio técnico é o fato de que
ele já é um ‘fato’ social, isto é, já existe e tem uma função na sociedade.
Cabe lembrar que pedagogia e tecnologia sempre foram elementos essenciais da
educação. O que é novo em nossas sociedades radicalmente modernas é a
aceleração do avanço técnico, especialmente no campo das telecomunicações e da
informática, com os processos de digitalização, de miniaturização e de
desenvolvimento das redes telemáticas” (p. 194). “Com prestígio acadêmico muito
maior do que a televisão (desprezada pelos educadores por seu caráter de meio
de entretenimento massivo), o computador veio desequilibrar definitivamente as
relações pedagógicas, exigindo um repensar de todo o processo e sistemas” (p.
195). “Para além desta ou daquela corrente pedagógica e para dimensionar
adequadamente a questão, é importante entender que a relação
ensino-aprendizagem deve se constituir numa inter-relação entre sujeitos (professor-aluno,
alunos-aluno), que pode ser ou não mediada pelas mídias ou tecnologias, em
busca da autonomia na produção de conhecimentos que tenham significado social” (p.
195). “Cabe lembrar que a educação é, há muito tempo, uma instituição social importante,
ao passo que os meios de informação e comunicação de massa, instituições bem
mais recentes, já conquistaram os ‘corações e mentes’ das novas gerações,
fazendo aparecer novos modos de perceber e de estar na vida, isto é, de ser” (p.
196). “Só a instituição escolar, presa em suas certezas e precariedades, não
consegue integrar em seu cotidiano estas novas formas de comunicação, típicas
da escola paralela (Belloni e Subtil, 2002)” (p. 196). “Cabe, então, às
instituições educacionais, responsáveis pelo processo de formação das novas
gerações, ‘apropriar-se de intenções, códigos e ferramentas para provocar
democraticamente, segundo cenários e atores diversos, outras práticas sociais e
culturais’ (Fainholc, 1995, p. 7)” (p. 196).
2.
Bates,
Tony. Educar na era digital: design,
ensino e aprendizagem. [tradução João Mattar]. -- 1. ed. -- São Paulo: Artesanato
Educacional, 2017. -- (Coleção tecnologia educacional; 8). 12.356 Kb; PDF. Título
original: Teaching in a digital age: guidelines
for designing teaching and learning. ISBN: 978-85-64803-07-7.
Trata-se,
na prática, de um manual.
“Este
livro foi produzido originalmente em inglês para ser lido online. Por isso tem
várias imagens coloridas, algumas das quais não foram incluídas na tradução”. “Este
livro vem sendo continuamente atualizado em inglês; esta tradução utilizou a
versão de 03 de agosto de 2015. Este é um exemplo maravilhoso de trabalho
colaborativo e foi, novamente, uma experiência repleta de aprendizado para
todos nós que nela estivemos envolvidos”. “Professores, instrutores e a
comunidade universitária estão enfrentando mudanças sem precedentes, com
classes cada vez maiores e diversificadas, com as demandas do governo e
empresários que querem mais responsabilidade e a formação de graduados como força
de trabalho imediata, e, acima de tudo, todos temos tido que lidar com as
mudanças constantes da tecnologia”. “Resumindo, o livro examina os princípios
que norteiam o ensino eficaz em uma época em que todos, e em particular os
alunos que estamos ensinando, estão usando tecnologia. Uma abordagem e um
conjunto de diretrizes são sugeridos para tomada de decisões sobre seu modo de
ensinar, com a com preensão que cada sujeito é diferente, e cada professor e
instrutor têm algo único e especial para trazer para seus cursos”. “Este livro é
destinado a professores e instrutores ansiosos para usar a tecnologia da melhor
forma possível no ensino. Muitos dos meus exemplos são baseados no ensino
superior, mas os princípios também são aplicáveis aos professores da educação
básica, embora, como professor que já atuou em escolas, esteja ciente de que
têm muito me nos recursos e suporte tecnológico que as faculdades ou
universidades”. “Por último, apesar de a tecnologia ser o foco central deste
livro, não estou defendendo a destruição do atual sistema educacional de base
humana, substituindo-o por um modelo de ensino altamente informatizado.
Acredito que, embora haja a necessidade de uma reforma substancial, há muitas
qualidades permanentes de um sistema de ensino com financiamento público e suporte
baseado em professores altamente qualificados e bem treinados que é difícil, se
não impossível, substituir pela tecnologia. O foco aqui é fazer a tecnologia
trabalhar para alunos e professores”. O livro foi publicado como foi escrito
pelo autor: um capítulo de cada vez. Foi publicado o primeiro rascunho da
maioria das seções no blogue online “Learning and Distance Education Resources”,
para receber comentários. Segundo o autor, “foi publicado como um livro aberto
por muitas razões, mas a principal é que eu vejo publicação aberta como o
futuro para a educação”. Enquanto manual, o livro permite ao leitor
movimentar-se entre suas muitas partes, pois é extremamente indexado. Visão geral
sobre o conteúdo: Capítulo 1: Mudança fundamental na educação. Capítulos 2-5:
Epistemologia e métodos de ensino. Capítulos 6-8: Mídia e tecnologia. Capítulos
9-10: Modalidade de ensino e a educação aberta. Capítulo 11 e Apêndice A:
Garantindo a qualidade de ensino na era digital. Capítulo 12: Suporte
institucional.
3.
Castells,
M. A Sociedade em Rede: do Conhecimento
à Política. In: Castells, M. e Cardoso, G. (organizadores). A Sociedade em Rede. Do Conhecimento à
Acção Política. Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Lisboa. 2005 (p. 17-30).
Compreender a transformação
social
“O
nosso mundo está em processo de transformação estrutural desde há duas décadas.
É um processo multidimensional, mas está associado à emergência de um novo
paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de comunicação e informação, que
começaram a tomar forma nos anos 60 e que se difundiram de forma desigual por
todo o mundo. Nós sabemos que a tecnologia não determina a sociedade: é a
sociedade. A sociedade é que dá forma à tecnologia de acordo com as
necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as tecnologias. Além
disso, as tecnologias de comunicação e informação são particularmente sensíveis
aos efeitos dos usos sociais da própria tecnologia. A história da Internet
fornece-nos amplas evidências de que os utilizadores, particularmente os
primeiros milhares, foram, em grande medida, os produtores dessa tecnologia”
(p.17). “Frequentemente, a sociedade emergente tem sido caracterizada como
sociedade de informação ou sociedade do conhecimento. Eu não concordo com esta
terminologia. Não porque conhecimento e informação não sejam centrais na nossa
sociedade. Mas porque eles sempre o foram, em todas as sociedades
historicamente conhecidas. O que é novo é o facto de serem de base
microelectrónica, através de redes tecnológicas que fornecem novas capacidades
a uma velha forma de organização social: as redes” (p.17). “Por um lado, são as
formas de organização mais flexíveis e adaptáveis, seguindo de um modo muito
eficiente o caminho evolutivo dos esquemas sociais humanos. Por outro lado,
muitas vezes não conseguiram maximizar e coordenar os recursos necessários para
um trabalho ou projeto que fosse para além de um determinado tamanho e
complexidade de organização necessária para a concretização de uma tarefa.
Assim, em termos históricos, as redes eram algo do domínio da vida privada,
enquanto o mundo da produção, do poder e da guerra estava ocupado por
organizações grandes e verticais, como os esta dos, as igrejas, os exércitos e
as empresas que conseguiam dominar vastos polos de recursos com um objetivo
definido por uma autoridade central” (p.17-18). “A comunicação em rede
transcende fronteiras, a sociedade em rede é global, é baseada em redes globais”
(p.18). “Aquilo a que chamamos globalização é outra maneira de nos referirmos à
sociedade em rede, ainda que de forma mais descritiva e menos analítica do que
o conceito de sociedade em rede implica. Porém, como as redes são seletivas de
acordo com os seus programas específicos, e porque conseguem, simultaneamente,
comunicar e não comunicar, a sociedade em rede difunde-se por todo o mundo, mas
não inclui todas as pessoas. De facto, neste início de século, ela exclui a
maior parte da humanidade, embora toda a humanidade seja afetada pela sua
lógica, e pelas relações de poder que interagem nas redes globais da organização
social” (p.18). “Assim, a questão não é como chegar à sociedade em rede, um
autoproclamado estádio superior do desenvolvimento humano. A questão é
reconhecer os contornos do nosso novo terreno histórico, ou seja, o mundo em
que vivemos. Só então será possível identificar os meios através dos quais,
sociedades específicas em contextos específicos, podem atingir os seus
objetivos e realizar os seus valores, fazendo uso das novas oportunidades
geradas pela mais extraordinária revolução tecnológica da humanidade, que é
capaz de transformar as nossas capacidades de comunicação, que permite a
alteração dos nossos códigos de vida, que nos fornece as ferramentas para realmente
controlarmos as nossas próprias condições, com todo o seu potencial destrutivo e
todas as implicações da sua capacidade criativa” (p.19).
A sociedade em
rede para lá dos mitos: as descobertas da investigação acadêmica
“Nos
primeiros anos do século XXI, a sociedade em rede não é a sociedade emergente da
Era da Informação: ela já configura o núcleo das nossas sociedades” (p.19). “É
pena que os media, os políticos, os
atores sociais, os líderes econômicos e os decisores continuem a falar de sociedade
de informação ou sociedade em rede, ou seja o que for que queiram chamar-lhe,
em termos de futurologia ou jornalismo desinformado, como se essas
transformações estivessem ainda no futuro, e como se a tecnologia fosse uma
força independente que deva ser ou denunciada ou adorada” (p.19). “A sociedade em
rede, em termos simples, é uma estrutura social baseada em redes operadas por
tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microeletrônica e em
redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a
partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes. A rede é a estrutura formal
(vide Monge e Contractor, 2004). É um sistema de nós interligados. E os nós são,
em linguagem formal, os pontos onde a curva se intersecta a si própria. As
redes são estruturas abertas que evoluem acrescentando ou removendo nós de
acordo com as mudanças necessárias dos programas que conseguem atingir os
objetivos de performance para a rede.
Estes programas são decididos socialmente fora da rede, mas a partir do momento
em que são inscritos na lógica da rede, a rede vai seguir eficientemente essas
instruções, acrescentando, apagando e reconfigurando, até que um novo programa
substitua ou modifique os códigos que comandam esse sistema operativo” (p.20).
“A sociedade em rede não é o futuro que devemos alcançar como o próximo estádio
do progresso humano, ao adotarmos o paradigma das novas tecnologias. É a nossa sociedade,
em diferentes graus, e com diferentes formas dependendo dos países e das culturas.
Qualquer política, estratégia, projeto humano, tem que partir desta base. Não é
o nosso destino, mas o nosso ponto de partida” (p.26).
Aspectos políticos-chave
na sociedade em rede
“As
pessoas, os atores sociais, as empresas, os políticos, não têm que fazer nada para
atingir ou desenvolver a sociedade em rede. Nós estamos na sociedade em rede, apesar
de nem todos, nem todas as coisas estarem incluídas nas redes. Assim, do ponto
de vista político, a questão-chave é como proceder para maximizar as hipóteses de
cumprir os projetos individuais e coletivos expressos pelas necessidades
sociais e pelos valores, em novas condições estruturais” (p.26). “O setor
público é atualmente o ator decisivo para desenvolver e moldar a sociedade em
rede” (p.27). “A moldagem e a condução desta sociedade está, como esteve sempre
no caso das outras, nas mãos do setor público, apesar do discurso ideológico
que pretende esconder esta realidade. Contudo, o setor público é a esfera da
sociedade em que as novas tecnologias de comunicação estão menos difundidas e
os obstáculos à inovação e ao funcionamento em rede são mais pronunciados”
(p.27). “De fato, o modelo burocrático racional do Estado da Era Industrial
está em completa contradição com as exigências e os processos da sociedade em
rede. Na base de todo o processo de mudança social está um novo tipo de
trabalhador, o trabalhador autoprogramado, e um novo tipo de personalidade,
fundada em valores, uma personalidade flexível capaz de se adaptar às mudanças
nos modelos culturais, ao longo do ciclo de vida, porque tem capacidade de
dobrar sem se partir, de se manter autônoma, mas envolvida com a sociedade que
a rodeia. Este inovador ser humano produtivo, em plena crise do patriarcalismo
e da família tradicional, requer uma reconversão total do sistema educativo, em
todos os seus níveis e domínios. Isto refere-se, certamente, a novas formas de
tecnologia e pedagogia, mas também aos conteúdos e organização do processo de
aprendizagem” (p.27). “O novo modelo informacional de desenvolvimento redefine
a condição de crescimento partilhado no mundo” (p.28). “Porém, estão mais
pessoas desligadas destas redes do que as que estão incorporadas. A segmentação
global da sociedade em rede, precisamente por causa do seu dinamismo produtivo,
está a colocar uma parte significativa da humanidade em condições de
irrelevância estrutural” (p.28). “A correção deste processo de exclusão massivo
requer uma política pública internacional, concertada, que atue nas raízes do
novo modelo de desenvolvimento (tecnologia, infraestruturas, educação, difusão
e gestão do conhecimento) em vez de simplesmente providenciar a satisfação das
necessidades, que surgem da exclusão social, sob a forma de caridade” (p.28). “Num
mundo de redes digitais, o processo de criatividade interativa é contrariado
pela legislação relativa a direitos de propriedade, herdados da Era Industrial”
(p.28).
Dilemas do nosso
tempo: criatividade versus
capitalismo de rendimentos; democracia da comunicação versus controlo político
Neste
início do século XXI, estamos numa encruzilhada do desenvolvimento da sociedade
em rede. Estamos a testemunhar uma crescente contradição entre relações sociais
tradicionais de produção e a potencial expansão de forças produtivas
formidáveis. Esta pode ser a última contribuição da teoria marxista clássica. O
potencial humano envolvido em novas tecnologias de comunicação e de genética,
em redes, em novas formas de organização social e de invenção cultural, é
verdadeiramente extraordinário. Contudo, sistemas sociais existentes travam a
dinâmica da criatividade e, se desafiados pela competição, tendem a implodir”
(p.29). “Os governos são ambíguos em relação aos usos da internet e das novas
tecnologias. Eles apreciam os seus benefícios, porém temem perder o controle da
informação e da comunicação em cujo poder sempre se apoiaram. Aderindo à
democracia da comunicação concorda-se com a democracia direta, algo que nenhum
estado aceitou ao longo da história. Admitir o debate para redefinir os direitos
de propriedade acerta em cheio no coração da legitimidade capitalista. Aceitar que
os utilizadores são produtores de tecnologia desafia o poder do especialista.
Então, uma política inovadora, mas pragmática, terá de encontrar o meio caminho
entre o que é social e politicamente exequível, em cada contexto, e a promoção
das condições culturais e organizacionais para a criatividade na qual a
inovação, o poder, a riqueza e a cultura se alicerçam, na sociedade em rede”
(p.29).
4.
Garcia,
Fabiane Maia. Tecnologia e educação:
relações históricas, locais e mundializadas.
Novas
Tecnologias na Educação. CINTED-UFRGS. V. 3 N. 1, maio, 2005.
“As
mudanças do último século podem ser identificadas a partir de cinco grandes eixos,
que se evidenciam nos campos da informática, da telecomunicação, da biotecnologia,
das novas formas de energia e do uso de materiais” (p.2). “Historicamente, a
Revolução Industrial provoca mudanças substanciais no modo de produção, tendo
como base o desmembramento de técnica e tecnologia. Nesse contexto, técnica
passa a ser a parte material ou o conjunto de processos de uma arte ou ainda a
maneira, o jeito ou a habilidade especial de executar ou fazer algo, enquanto
que tecnologia, segundo Lion (1998), é entendida como o uso do conhecimento
científico que especifica modos de fazer as coisas de maneira reproduzível”
(p.2). “A questão ética no desenvolvimento das tecnologias é uma das principais
fontes de discussões e debates na comunidade científica, pois, nesta, existem
facções que ainda defendem a tecnologia vinculada aos valores, à vida e à ética
humana, enquanto outras afirmam não ser possível pôr amarras nos avanços
tecnológicos ou sobrepor aos interesses e às necessidades científicas de
avançar” (p.2-3). “A questão do avanço científico-tecnológico é tão emergente
que, hoje, o valor principal já não está na combinação de terra, capital e
trabalho, mas sim no nível de conhecimento que uma população dispõe e na sua
capacidade de transmitir e reconstruir conhecimento, o que traduz sua
competência no manuseio do instrumental tecnológico moderno (Moraes, 1997). Portanto,
tem-se observado que o domínio do conhecimento é hoje o que o domínio dos modos
de produção foi no escravismo, no feudalismo e na indústria” (p.3). “Neste contexto, a
educação escolar, em que o conhecimento por excelência deve ser produzido, está
sendo pressionada a fazer uso das tecnologias produzidas na sociedade da qual
faz parte” (p.3). “Ao longo do tempo, especialistas em educação vêm
desenvolvendo diversos recursos para otimizar a tarefa do professor em sala de
aula” (p.3). “No
Brasil, estas tecnologias são inseridas nas escolas a partir da década de 1950 com
os chamados pacotes de instruções metodológicas, em que o docente executava propostas
elaboradas por especialistas, separando, claramente, os que pensam dos que fazem”
(p.4). “As tecnologias chegam as nossas escolas ainda que restrita e sem o entendimento
pleno de sua utilização por parte dos educadores. Porém, a sociedade de hoje
possui um universo de conhecimento que a revoluciona profundamente, tendo a escola
a função de equalizar as disparidades sociais existentes, tanto em termos econômicos
quanto culturais” (p.4-5). “O simples acesso à tecnologia em si não é o aspecto
mais importante, mas sim, a criação de novos ambientes de aprendizagem e de
novas dinâmicas sociais a partir do uso dessas novas ferramentas (Moraes, 1997)”.
“Mesmo estando presente no cotidiano escolar há algum tempo, as tecnologias de informação
apresentam-se aos profissionais do ensino como uma novidade, apesar da grande
maioria já desenvolver experiências significativas com as mesmas” (p.5). “Infelizmente,
mesmo possuindo recursos da quarta geração de ensino, a maioria das escolas
públicas e particulares faz uso meramente instrumental ou pouco utiliza os recursos
classificados como de primeira geração” (p.6).
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