terça-feira, 20 de outubro de 2009

Pluralidade

A Grande Família

Meu antigo terapeuta e eu estamos organizando a formação de um grupo para ler e discutir textos relativos à homossexualidade. A proposta é algo que possa ser partilhado por gays e não-gays – e não a de fazermos mais uma espécie de dinâmica de grupo. Como de praxe, assumi a “secretaria” da atividade, propondo-me a articular as pessoas e prospectar os textos.

Pensando que seria muito complicado começar os trabalhos com livros, pois demandam tempo de leitura e isso poderia ser um desestimulador inicial, optei por artigos: textos mais concisos e fáceis de serem distribuídos. Assim, minha busca começou pelo Google Acadêmico, que disponibiliza gratuitamente textos publicados em periódicos brasileiros e estrangeiros. Para a palavra-chave “homossexualidade” a pesquisa encontrou uma quantidade astronômica de referências. Entre tantas, e em sintonia com nossa charmosa editora, chamou minha atenção as muitas indicações para os temas “família homossexual” e “direito de família homossexual”.

Já li algumas coisas e constatei que, por conta do impasse legislativo, o direito homossexual está sendo gestado nos tribunais, através de jurisprudência. Os juízes, respaldados pelo poder de decidir diante da realidade, têm construído um arcabouço legal que, aos poucos, está fazendo o serviço dos nobres legisladores, a ponto de um jurista ter afirmado que os atuais projetos em discussão pelos políticos já estão obsoletos. Exemplos são os casos de homens e mulheres gays que estabelecem uniões estáveis, sem que isso esteja na lei, e que adotam crianças, formando verdadeiras famílias.

Famílias que fogem do padrão tradicional – se é que ainda existam ”famílias tradicionais”. Aliás, nesse sentido, a comunidade homossexual tem participado ativamente da grande transformação social em curso no mundo, pela qual as noções de "família" certamente serão revistas.

Eu, contudo, não tenho amigos gays interessados em adotar crianças. Mas tenho amigos gays que são pais muito dedicados a seus filhos – morando ou não com eles. E sou testemunha de relações muito positivas entre esses jovens e seus pais diferenciados.

Vejo, entretanto, um ponto no qual o tema "família homossexual" ainda esbarra: os gays são entendidos, pelas pessoas mais reacionárias e preconceituosas, como más influências; portanto, incapazes de serem bons pais e boas influências. Daí o perigo que essas pessoas enxergam na adoção e na paternidade gays: fantasiam que essas crianças serão gays desajustados.

Até aqui, nenhuma novidade, apenas mais do mesmo: o puro e infeliz preconceito.

O que me espanta é que também os pais gays tenham essa preocupação sexual, mesmo que não assumida, mas perfeitamente perceptível no alívio da descoberta do filho, por exemplo, com uma revista Playboy nas mãos ou da filha com enormes pôsteres de rapazes na porta do quarto. “Ufa: ele não é”. Percebo isso também na mídia: a preocupação com a sexualidade dos filhos está em filmes, que assisti e recomendo, como A Gaiola das Loucas (1978) ou Essa Estranha Atração (1988), além de muitos outros. Uma preocupação que certamente discutiremos em nosso grupo de estudos.

...

Pais e professores gays não precisam, e não devem, se preocupar com a possível influência da própria sexualidade sobre seus filhos ou seus alunos. Podem, sim, colaborar positivamente para transmitir noções saudáveis desta forma de sexualidade, para que mitos e tabus sejam apagados.

Só para lembrar: 90% dos adultos são heterossexuais e isso nem estimula nem desestimula um jovem gay a ser o que ele é: gay.

Jorge Alves de Lima
joralima@usp.br
originalmente publicado no http://jornalaene.blogspot.com/

2 comentários:

Paula K. disse...

oi Jorge!
Vi um artigo na revista Veja dessa semana que acho que tem a ver com essa seu post...amanhã irei escaneá-lo e te enviarei para vc dar uma olhadinha.

Ah! Agora eu tb tenho blog...
http://sempreperseguindosonhos.blogspot.com/

Fique com Deus.

Bjinhos, Paula.

Jorge de Lima disse...

Paula. Ok, vou aguardar teu arquivo escaneado. Muito obrigado pela visita. Abração, Jorge