terça-feira, 30 de novembro de 2010

Papo verde - respostas

Oi Jorge!
 
Obrigado por perguntar suas dúvidas, fico contente! Vou tentar explicar o que penso sobre isso.

Bom, eu gostaria de ver esses estudos sobre a "dor" das plantas. Se tiver algum, por favor me envie, pois já ouvi bastante esse argumento, apesar de achá-lo bastante duvidoso. Cultivo um tipo de consciência hoje em dia que me impele a respeitar todos os seres vivos, inclusive as plantas. Assim, discordo de qualquer desrespeito a árvores, arbustos e ervas, pois acredito que tudo na natureza merece respeito. No entanto, acho que esse respeito deve se manifestar de forma diferente de acordo com as possibilidades de percepção do mundo por cada ser. 

Se um dia me mostrarem um artigo científico provando que as plantas sentem alguma coisa, ainda assim vou continuar sendo vegetariano, por duas razões: 1 - animal que sou, preciso comer alguma coisa, ou melhor, comer tecidos de seres vivos; 2 - a experiência de sensação vegetal (que, apesar de improvável, eu não considero impossível) está muito mais distante da minha realidade do que a experiência sensorial dos animais; assim, mesmo não ignorando e respeitando a possibilidade de haver sensações nos vegetais, eu não poderia voltar a comer animais, já que posso imaginar a sua dor e sentir compaixão. Como li em um livro do incrível Joseph Campbell, "compaixão" significa "sofrer com", e nós podemos e devemos sentir isso quando o sofrimento é perceptível para nós. Quando andamos na rua, vemos muitas pessoas. Por mais que muitas delas possam estar em grande sofrimento, às vezes não percebemos, pois elas se escondem em camadas e camadas de roupas bonitas, maquiagem e sorrisos. Nesse estado de vida corpóreo, temos muita dificuldade de sentir compaixão quando o sofrimento não nos é perceptível. Acredito sim, que devemos sentir compaixão por todas as pessoas, todas. E por todos os animais também. Se as plantas sofrem, por elas também. No entanto, nesse tipo de corpo, com sentidos imperfeitos, não consigo saber sobre o que se passa dentro de cada ser do mundo, e assim, tomo como dever proteger, pelo menos, aqueles que já sei que são parecidos comigo e que podem sofrer como eu. Os animais podem sofrer como nós, e isso nós sabemos muito antes da nossa arrogante Ciência ter se desenvolvido.

Agora a questão da cadeia alimentar. 

O ser humano, desde que inventou a agricultura, há cerca de 10 mil anos, não depende mais da disponibilidade de seres vivos nas populações naturais. Isso significa que, a despeito das flutuações populacionais em cada espécie vegetal e animal das quais se alimentava, o homem aprendeu a manter suas fontes de alimento relativamente constantes. Assim sendo, ele deixou de regular as populações de espécies vegetais das quais se alimentava, pois produzia o que comia e, cada vez menos dependia do que as populações naturais ofereciam. Com os animais ocorreu algo parecido. O homem começou a criar para comer, e cada vez menos dependia dos animais de caça, não mais regulando as populações de tais espécies como antes. 

Claro que estou fazendo uma simplificação bem grosseira, pois muitos grupos humanos continuaram caçando até hoje ou dependendo do extrativismo vegetal, se é que se pode chamar assim. O importante é que o papel que o homem tem nos ecossistemas hoje em dia é muito diferente do que tinha há 50 mil anos. Hoje exercemos principalmente a função de predadores, em todos os tipos de habitats, e isso, com certeza, não é saudável para o planeta e nem para a nossa espécie. Alguém que come carne não está, de forma alguma, contribuindo para o equilíbrio da natureza, mas, pelo contrário, colaborando com a degradação mais rápida dos recursos (limitados) que a Terra oferece, tendo em vista todos os impactos da pecuária que já falamos. 

Acredito que as pessoas não vão deixar de comer carne de uma vez, mas será um processo gradual. Assim, não precisamos ter medo de uma explosão populacional de vacas, já que elas são alimentadas justamente para servir de matéria-prima para essa indústria do sangue. Temos aí uma questão de mercado e demanda, ou seja, quanto menos pessoas comprarem carne, menos vacas serão mortas e menos vacas serão reproduzidas.

Vamos aos dinossauros, elefantes e tudo mais... É um erro biológico associar carne a agilidade ou a características vantajosas. Temos muitos exemplos de animais herbívoros fortes e ágeis. Cavalos, antílopes, orangotangos e gorilas são apenas alguns exemplos. Entre os dinossauros, havia herbívoros ágeis e carnívoros ágeis, herbívoros fortes e carnívoros fortes... Se os carnívoros superassem os herbívoros em força e agilidade, não teríamos mais animais herbívoros no mundo, hehe! E nem carnívoros, pois seu alimento acabaria. 

Li recentemente a autobiografia de Gandhi, e ele, em sua juventude, foi levado a acreditar que os ingleses dominavam os indianos porque os ingleses comiam carne. Logo ele descobriu que isso não tinha nada a ver, experimentou carne, se arrependeu muito e se tornou um dos mais importantes ativistas vegetarianos que já tivemos no mundo.

A dieta combinada de carne e vegetais não tem vantagens sobre a dieta vegetariana. Isso estamos descobrindo só agora, e os artigos que lhe enviei falam um pouco disso. Não existem seres humanos que comem só carne, assim, todos os que não são vegetarianos são onívoros. As doenças de coração, pressão, diabetes, obesidade e câncer são muito mais frequentes nas populações de onívoros que de vegetarianos. Alguns tipos de câncer, como o de intestino, são cerca de 80% mais comuns em onívoros. Acho que essa estatística nos mostra claramente que comer carne e vegetais não é melhor para a saúde do que comer só vegetais. Desconheço doenças que sejam mais frequentes entre vegetarianos e já ouvi dizer (apesar de não saber sobre a veracidade científica do dado) que entre os animais herbívoros não existe câncer.

Espero ter ajudado!!! =)

Nenhum comentário: