sexta-feira, 11 de maio de 2018

UNIVESP – Curso de Pedagogia – Disciplina: Educação Mediada por Tecnologias I – Semana 1 - Visão histórica das tecnologias na Educação

UNIVESP – Curso de Pedagogia
Disciplina: Educação Mediada por Tecnologias I
Semana 1 - Visão histórica das tecnologias na Educação

joralimaTEXTO

Os objetivos dessa semana são:

Entender o que é tecnologia educacional;
Compreender a função da tecnologia quando incorporada na educação.

Vídeo-base 1

Filme de animação, sem diálogos, mostra a evolução da tecnologia a serviço da educação, desde as pinturas rupestres até a internet móvel.

Vídeo-base 2

Psicologia da Aprendizagem - Aula 11 - O desafio de reinventar a escola
Profa. Silvia M. Gasparian Colello

Mudanças.

Segundo Castells, no texto “La era de la información: economia, sociedade y cultura” (1994), estamos diante de uma mudança de época e não de uma época de mudanças.

Gomez (no livro: “Educação na era digital”, 2015) divide o desenvolvimento da humanidade em quatro ciclos básicos:

Idade da pedra (até 6.000 a.C.). Sobrevivência
Época agrícola (6.000 a.C. até século XVIII). Agricultura, pecuária, intercâmbio comercial.
Era industrial (século XVIII até século XX). Produção fabril. Revolução industrial.
Era da informação (1975 até os dias atuais). Sistemas de informação

A Era da Tecnologia, contudo, não resolveu contradições, desigualdades sociais e ainda fez surgirem novas diferenças/dificuldades.

Na escola, há convivência com diferentes realidades. Há necessidade de reinventar a escola.

Dois eixos: extraescolar (a sociedade); escolar (a própria escola).

Extraescolar
Novos modos de aprender e se relacionar com a informação
Novos recursos e novas tecnologias
Novos apelos sociais e do mercado de trabalho

Escolar
Fracasso escolar e elitização dos bens culturais
Desafio de inclusão e inserção no mundo letrado
Luta por escola democrática e de qualidade

Dois caminhos possíveis para reinventar a escola:

1. Revisão das concepções (quem é esse novo aluno), conteúdos (o que ensinar para ele) e práticas (como ensinar).
2. Apropriação tecnológica na prática educacional.

Como reinventar a escola

Princípios: qualidade no lugar de quantidade de informação
Meios: trocar transmissão do conhecimento por construção do conhecimento (metodologias ativas). Criar oportunidades de o próprio aluno chegar ao conhecimento.
Metas: formação ampla acima de cumprimento de programas de ensino (menos passar conteúdos e conceitos e mais preparar para o mundo)

Fonte: Colello, SMG. “Para onde vai a reforma curricular brasileira?”, 2001.


Ruben Alves
“Nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas...”.

Vídeo de apoio 1

A História da Tecnologia na Educação

A ciência de hoje é a tecnologia de amanhã (Edward Teller).

Filme de animação, sem diálogos, com legendas em inglês, mostra a evolução da tecnologia a serviço da educação, desde as pinturas rupestres até a internet móvel.

Vídeo de apoio 2

As novas tecnologias em sala de aula
Série “Sua Escola Nossa Escola”.

Qual a importância das novas tecnologias em sala de aula?

Diversos especialistas respondem:

Importante pensar em que projeto de educação as tecnologias serão usadas. Precisa se apropriar das novas tecnologias para encontrar eco nos alunos. A tecnologia é um dos componentes, não sendo o único elemento. A formação docente e o trabalho colaborativo também fazem parte do processo educacional. As tecnologias devem funcionar como apoio/mediação. Usar as tecnologias para gerar pensamento crítico nos alunos.

Como motivar os docentes para o uso das tecnologias?

Diversos especialistas respondem:

Usar para melhorar a aula, para melhorar sua capacitação profissional, seu currículo profissional. Incentivar docentes a utilizar as disponibilidades de tecnologia presentes na escola (sala de vídeo, laboratório, sala de multimeios): os gestores são fundamentais para tornar esses recursos acessíveis ao professor. Apresentar os recursos e treinar para utilizá-los. Depois, provocar a inovação (como fazer algo novo com os recursos). Para não precisar repetir as aulas. Não há justificativa para se ensinar hoje do mesmo modo que se ensinava há 50 anos. O mundo mudou, a sociedade está mudando: a escola tem que mudar.

Vídeo de apoio 3

Criatividade, Tecnologia e Educação – Novas possibilidades de aprendizagem

Filme de animação, sem diálogos, com legendas em português.

Criatividade + tecnologia + inovação = aprendizagem significativa.

O que é criatividade?

É se colocar em um estado diferente do habitual, deixando seu cérebro criar novas ideias e buscar alternativas diferenciadas. Isto se chama inovação.

Mas como ser inovador em educação?

Utilizando ferramentas eficientes que auxiliem no processo de aprendizagem. São as chamadas mídias da educação.
O uso dessas ferramentas depende da criatividade e dos objetivos que são propostos para cada aprendizagem.
Os sons, as cores, as texturas, as diferentes interpretações de uma mesma imagem: tudo isto funciona como elemento diferencial que possibilita aprender com facilidade.
Assim, as mídias se tornam aliadas dos processos educacionais quando usadas com eficiência e criatividade.


Vídeo de apoio 4

Educação em rede

Filme de animação, sem diálogos, com legendas em português, mostra que a tecnologia chegou à escola, mas a educação [não] mudou: no lugar da lousa, o computador, mas a mesma relação passiva dos alunos. Com imagens, mostra um caminho diferente até concluir que, conectados com o mundo, aprendemos em rede.

Fichamento dos textos

1.

Educacão a distância e inovacão tecnológica
Maria Luiza Belloni - Professora do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina e pesquisadora do CNPq. Doutora em Ciências da Educação pela Universidade René Descartes (Paris V). . In Trabalho, Educação e Saúde, v. 3 n. 1, p. 187-198, 2005.

Educação a distância como modo regular de ensino

“Estudos teóricos e análises de experiências de EaD vêm demonstrando que, na maioria dos países, delineiam-se claramente duas macrotendências: por um lado, a convergência dos dois ‘paradigmas’ de ensino (presencial e a distância), em decorrência de transformações sociais, sobretudo no mercado de trabalho; e, por outro, a integração das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) à vida cotidiana e aos processos culturais e comunicacionais, criando novas necessidades e demandas educacionais e exigindo novos modos de organizar e ofertar o ensino” (p.188). “Vivemos em sociedades radicalmente modernas, globalizadas, nas quais reinam condições de produção econômica ditas pós-fordistas e pós-industriais, legitimadas por uma ideologia neoliberal que coloca toda a responsabilidade de sucesso no indivíduo” (p. 188). “Neste quadro de mudanças, já não se pode considerar a educação a distância apenas um meio para solucionar problemas emergenciais ou para remediar alguns fracassos do sistema educacional em dado momento de sua história. A EaD tende, doravante, a se tornar cada vez mais um elemento regular e necessário dos sistemas educativos, não apenas para atender a demandas ou grupos específicos, mas também para desempenhar funções de crescente importância, especialmente no ensino pós-secundário, ou seja, na educação da população adulta, o que inclui o ensino superior regular e toda a grande e variada demanda de formação contínua gerada pela obsolescência acelerada da tecnologia e do conhecimento” (p. 189). “Não significa necessariamente que a educação seja orientada para as exigências do mercado. Ao contrário, em uma concepção ideal, a formação continuada deve estar voltada para as demandas do indivíduo emancipado, capaz de competir no mercado, não porque foi treinado para isto, mas justamente porque é emancipado e, portanto, capaz de agir politicamente, ou seja, como cidadão e profissional, capaz de agir de modo competente em situações novas e complexas (Carmo, 1997; Perriault, 1996; Bates, 1990)” (p. 189) “Estas mudanças geram, no campo da EaD, uma tendência à ‘educação aberta’, ou seja, a uma maior flexibilidade na definição de cursos e carreiras, nos critérios de ingresso e nas metodologias de ensino, bem como uma maior ênfase nas situações de aprendizagem e, portanto, nas estratégias de atendimento ao estudante, baseadas no uso adequado de uma combinação inteligente das diferentes tecnologias de informação e comunicação (Peters, 1983; Field, 1995; Campion, 1995; Belloni, 1999)” (p. 189). “Deve-se compreender a EaD como um tipo distinto de oferta educacional, que exige inovações ao mesmo tempo pedagógicas, didáticas e organizacionais. Os principais elementos constitutivos que a diferenciam da modalidade presencial são a ‘descontiguidade’ espacial entre professor e aluno, a comunicação diferida (separação no tempo) e a mediação tecnológica, característica fundamental dos materiais pedagógicos e da interação entre o aluno e a instituição” (p. 190). “Cabe ressaltar que um dos indicadores mais seguros da qualidade da educação oferecida é sua adequabilidade não às demandas do mercado, mas às aspirações profissionais dos estudantes. Quando a instituição escolar, em todos os seus níveis, fizer claramente esta sutil distinção, ganhará certamente em resultados positivos. A centralidade do estudante no processo educacional é fundamental e na EaD esta consideração é essencial” (p. 191).

Tecnologias de Informação e Comunicação e inovação educacional

“É fundamental deslocar o eixo da discussão da ‘modalidade’ para o ‘método’, ou seja, das formas de organização da oferta de ensino para os modos de ensinar e aprender, utilizando os novos artefatos que os avanços tecnológicos colocam à disposição da sociedade” (p. 191). “A educação a distância tem, pois, de ser compreendida a partir de uma perspectiva mais ampla: a da integração das TIC nos processos educacionais, como meio de democratizar o acesso a uma verdadeira formação emancipatória. Considerada a partir desta perspectiva mais ampla, a EaD é apenas uma das modalidades possíveis de oferta de ensino e de formação profissional, e o fundamento da educação deve ser a pesquisa, com o objetivo de aprender a aprender” (p. 192). “Como ferramenta, o meio técnico é um instrumento didático e pedagógico, a serviço do professor e do aluno naquele processo. Como objeto de estudo, ele é uma oportunidade de formação do usuário crítico, competente e criativo, tanto para o estudante quanto para o professor” (p. 192). “É imprescindível levar em conta que o uso adequado das TIC promove e exige uma abordagem interdisciplinar da educação, pois requer que o professor domine o uso das ferramentas e trabalhe coletivamente com profissionais de diferentes áreas” (p. 193). “É preciso não esquecer que educação e tecnologia sempre caminharam juntas (a socialização das crianças inclui sua preparação para o uso das técnicas disponíveis na sociedade) e que as técnicas devem ser consideradas como meios e não como conteúdos de educação e, por consequência, que a informática e as TIC não são disciplinas, mas instrumentos a serem integrados em sua dupla dimensão de objetos de estudos e de ferramentas pedagógicas. Uma proposta de EaD adequada deveria, então, integrar, em um conjunto coerente e consistente de materiais e estratégias, conteúdos e metodologias de ensino que levassem em consideração as seguintes grandes variáveis, cujas características fundamentais são: autonomia do aluno adulto, capaz de gerir seu próprio processo de aprendizagem; novas funções e características do professor (transformação da função docente de rotineiramente individual em necessariamente coletiva); mediatização intensiva do processo de ensino e aprendizagem, com a integração cada vez maior dos meios de informação e comunicação digitalizados e teletransmissores; e flexibilidade institucional e pedagógica, o que requer muita inventividade e instituições competentes e não-corporativas”  (p. 193). “A tendência mais fortemente estabelecida indica maior adequabilidade da EaD para indivíduos adultos e para o ensino pós-secundário, bem como sua inadequabilidade para populações infantis e para a educação básica. Experiências bem-sucedidas de educação popular (campanhas de esclarecimento sobre direitos civis, saúde, trabalho etc.) revelam que a EaD pode obter ótimos resultados sempre que o tema seja de interesse da população-alvo e que a linguagem e os meios técnicos utilizados sejam apropriados (Belloni, 2002a)” (p. 193-194). “É preciso, com efeito, evitar este deslumbramento que leva ao uso de inovações tecnológicas como um fim em si mesmo. Em geral, as novas tecnologias não substituem nem o professor, de quem seu uso exige esforços renovados de atualização, nem as tecnologias antigas, às quais se acrescentam não como meros instrumentos neutros a serviço de velhas metodologias, mas como meios inovadores suscetíveis de contribuir para o aperfeiçoamento e enriquecimento dos sistemas educacionais presenciais, a distância ou em qualquer outra modalidade de educação (Perriault, 1996; Trindade, 1991 e 1992)” (p. 194). “Não podemos perder de vista que a razão principal do uso educativo de um meio técnico é o fato de que ele já é um ‘fato’ social, isto é, já existe e tem uma função na sociedade. Cabe lembrar que pedagogia e tecnologia sempre foram elementos essenciais da educação. O que é novo em nossas sociedades radicalmente modernas é a aceleração do avanço técnico, especialmente no campo das telecomunicações e da informática, com os processos de digitalização, de miniaturização e de desenvolvimento das redes telemáticas” (p. 194). “Com prestígio acadêmico muito maior do que a televisão (desprezada pelos educadores por seu caráter de meio de entretenimento massivo), o computador veio desequilibrar definitivamente as relações pedagógicas, exigindo um repensar de todo o processo e sistemas” (p. 195). “Para além desta ou daquela corrente pedagógica e para dimensionar adequadamente a questão, é importante entender que a relação ensino-aprendizagem deve se constituir numa inter-relação entre sujeitos (professor-aluno, alunos-aluno), que pode ser ou não mediada pelas mídias ou tecnologias, em busca da autonomia na produção de conhecimentos que tenham significado social” (p. 195). “Cabe lembrar que a educação é, há muito tempo, uma instituição social importante, ao passo que os meios de informação e comunicação de massa, instituições bem mais recentes, já conquistaram os ‘corações e mentes’ das novas gerações, fazendo aparecer novos modos de perceber e de estar na vida, isto é, de ser” (p. 196). “Só a instituição escolar, presa em suas certezas e precariedades, não consegue integrar em seu cotidiano estas novas formas de comunicação, típicas da escola paralela (Belloni e Subtil, 2002)” (p. 196). “Cabe, então, às instituições educacionais, responsáveis pelo processo de formação das novas gerações, ‘apropriar-se de intenções, códigos e ferramentas para provocar democraticamente, segundo cenários e atores diversos, outras práticas sociais e culturais’ (Fainholc, 1995, p. 7)” (p. 196).

2.

Bates, Tony. Educar na era digital: design, ensino e aprendizagem. [tradução João Mattar]. -- 1. ed. -- São Paulo: Artesanato Educacional, 2017. -- (Coleção tecnologia educacional; 8). 12.356 Kb; PDF. Título original: Teaching in a digital age: guidelines for designing teaching and learning. ISBN: 978-85-64803-07-7.

Trata-se, na prática, de um manual.

“Este livro foi produzido originalmente em inglês para ser lido online. Por isso tem várias imagens coloridas, algumas das quais não foram incluídas na tradução”. “Este livro vem sendo continuamente atualizado em inglês; esta tradução utilizou a versão de 03 de agosto de 2015. Este é um exemplo maravilhoso de trabalho colaborativo e foi, novamente, uma experiência repleta de aprendizado para todos nós que nela estivemos envolvidos”. “Professores, instrutores e a comunidade universitária estão enfrentando mudanças sem precedentes, com classes cada vez maiores e diversificadas, com as demandas do governo e empresários que querem mais responsabilidade e a formação de graduados como força de trabalho imediata, e, acima de tudo, todos temos tido que lidar com as mudanças constantes da tecnologia”. “Resumindo, o livro examina os princípios que norteiam o ensino eficaz em uma época em que todos, e em particular os alunos que estamos ensinando, estão usando tecnologia. Uma abordagem e um conjunto de diretrizes são sugeridos para tomada de decisões sobre seu modo de ensinar, com a com preensão que cada sujeito é diferente, e cada professor e instrutor têm algo único e especial para trazer para seus cursos”. “Este livro é destinado a professores e instrutores ansiosos para usar a tecnologia da melhor forma possível no ensino. Muitos dos meus exemplos são baseados no ensino superior, mas os princípios também são aplicáveis aos professores da educação básica, embora, como professor que já atuou em escolas, esteja ciente de que têm muito me nos recursos e suporte tecnológico que as faculdades ou universidades”. “Por último, apesar de a tecnologia ser o foco central deste livro, não estou defendendo a destruição do atual sistema educacional de base humana, substituindo-o por um modelo de ensino altamente informatizado. Acredito que, embora haja a necessidade de uma reforma substancial, há muitas qualidades permanentes de um sistema de ensino com financiamento público e suporte baseado em professores altamente qualificados e bem treinados que é difícil, se não impossível, substituir pela tecnologia. O foco aqui é fazer a tecnologia trabalhar para alunos e professores”. O livro foi publicado como foi escrito pelo autor: um capítulo de cada vez. Foi publicado o primeiro rascunho da maioria das seções no blogue online “Learning and Distance Education Resources”, para receber comentários. Segundo o autor, “foi publicado como um livro aberto por muitas razões, mas a principal é que eu vejo publicação aberta como o futuro para a educação”. Enquanto manual, o livro permite ao leitor movimentar-se entre suas muitas partes, pois é extremamente indexado. Visão geral sobre o conteúdo: Capítulo 1: Mudança fundamental na educação. Capítulos 2-5: Epistemologia e métodos de ensino. Capítulos 6-8: Mídia e tecnologia. Capítulos 9-10: Modalidade de ensino e a educação aberta. Capítulo 11 e Apêndice A: Garantindo a qualidade de ensino na era digital. Capítulo 12: Suporte institucional.

3.

Castells, M. A Sociedade em Rede: do Conhecimento à Política. In: Castells, M. e Cardoso, G. (organizadores). A Sociedade em Rede. Do Conhecimento à Acção Política. Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Lisboa. 2005 (p. 17-30).

Compreender a transformação social

“O nosso mundo está em processo de transformação estrutural desde há duas décadas. É um processo multidimensional, mas está associado à emergência de um novo paradigma tecnológico, baseado nas tecnologias de comunicação e informação, que começaram a tomar forma nos anos 60 e que se difundiram de forma desigual por todo o mundo. Nós sabemos que a tecnologia não determina a sociedade: é a sociedade. A sociedade é que dá forma à tecnologia de acordo com as necessidades, valores e interesses das pessoas que utilizam as tecnologias. Além disso, as tecnologias de comunicação e informação são particularmente sensíveis aos efeitos dos usos sociais da própria tecnologia. A história da Internet fornece-nos amplas evidências de que os utilizadores, particularmente os primeiros milhares, foram, em grande medida, os produtores dessa tecnologia” (p.17). “Frequentemente, a sociedade emergente tem sido caracterizada como sociedade de informação ou sociedade do conhecimento. Eu não concordo com esta terminologia. Não porque conhecimento e informação não sejam centrais na nossa sociedade. Mas porque eles sempre o foram, em todas as sociedades historicamente conhecidas. O que é novo é o facto de serem de base microelectrónica, através de redes tecnológicas que fornecem novas capacidades a uma velha forma de organização social: as redes” (p.17). “Por um lado, são as formas de organização mais flexíveis e adaptáveis, seguindo de um modo muito eficiente o caminho evolutivo dos esquemas sociais humanos. Por outro lado, muitas vezes não conseguiram maximizar e coordenar os recursos necessários para um trabalho ou projeto que fosse para além de um determinado tamanho e complexidade de organização necessária para a concretização de uma tarefa. Assim, em termos históricos, as redes eram algo do domínio da vida privada, enquanto o mundo da produção, do poder e da guerra estava ocupado por organizações grandes e verticais, como os esta dos, as igrejas, os exércitos e as empresas que conseguiam dominar vastos polos de recursos com um objetivo definido por uma autoridade central” (p.17-18). “A comunicação em rede transcende fronteiras, a sociedade em rede é global, é baseada em redes globais” (p.18). “Aquilo a que chamamos globalização é outra maneira de nos referirmos à sociedade em rede, ainda que de forma mais descritiva e menos analítica do que o conceito de sociedade em rede implica. Porém, como as redes são seletivas de acordo com os seus programas específicos, e porque conseguem, simultaneamente, comunicar e não comunicar, a sociedade em rede difunde-se por todo o mundo, mas não inclui todas as pessoas. De facto, neste início de século, ela exclui a maior parte da humanidade, embora toda a humanidade seja afetada pela sua lógica, e pelas relações de poder que interagem nas redes globais da organização social” (p.18). “Assim, a questão não é como chegar à sociedade em rede, um autoproclamado estádio superior do desenvolvimento humano. A questão é reconhecer os contornos do nosso novo terreno histórico, ou seja, o mundo em que vivemos. Só então será possível identificar os meios através dos quais, sociedades específicas em contextos específicos, podem atingir os seus objetivos e realizar os seus valores, fazendo uso das novas oportunidades geradas pela mais extraordinária revolução tecnológica da humanidade, que é capaz de transformar as nossas capacidades de comunicação, que permite a alteração dos nossos códigos de vida, que nos fornece as ferramentas para realmente controlarmos as nossas próprias condições, com todo o seu potencial destrutivo e todas as implicações da sua capacidade criativa” (p.19).

A sociedade em rede para lá dos mitos: as descobertas da investigação acadêmica

“Nos primeiros anos do século XXI, a sociedade em rede não é a sociedade emergente da Era da Informação: ela já configura o núcleo das nossas sociedades” (p.19). “É pena que os media, os políticos, os atores sociais, os líderes econômicos e os decisores continuem a falar de sociedade de informação ou sociedade em rede, ou seja o que for que queiram chamar-lhe, em termos de futurologia ou jornalismo desinformado, como se essas transformações estivessem ainda no futuro, e como se a tecnologia fosse uma força independente que deva ser ou denunciada ou adorada” (p.19). “A sociedade em rede, em termos simples, é uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes. A rede é a estrutura formal (vide Monge e Contractor, 2004). É um sistema de nós interligados. E os nós são, em linguagem formal, os pontos onde a curva se intersecta a si própria. As redes são estruturas abertas que evoluem acrescentando ou removendo nós de acordo com as mudanças necessárias dos programas que conseguem atingir os objetivos de performance para a rede. Estes programas são decididos socialmente fora da rede, mas a partir do momento em que são inscritos na lógica da rede, a rede vai seguir eficientemente essas instruções, acrescentando, apagando e reconfigurando, até que um novo programa substitua ou modifique os códigos que comandam esse sistema operativo” (p.20). “A sociedade em rede não é o futuro que devemos alcançar como o próximo estádio do progresso humano, ao adotarmos o paradigma das novas tecnologias. É a nossa sociedade, em diferentes graus, e com diferentes formas dependendo dos países e das culturas. Qualquer política, estratégia, projeto humano, tem que partir desta base. Não é o nosso destino, mas o nosso ponto de partida” (p.26).

Aspectos políticos-chave na sociedade em rede

“As pessoas, os atores sociais, as empresas, os políticos, não têm que fazer nada para atingir ou desenvolver a sociedade em rede. Nós estamos na sociedade em rede, apesar de nem todos, nem todas as coisas estarem incluídas nas redes. Assim, do ponto de vista político, a questão-chave é como proceder para maximizar as hipóteses de cumprir os projetos individuais e coletivos expressos pelas necessidades sociais e pelos valores, em novas condições estruturais” (p.26). “O setor público é atualmente o ator decisivo para desenvolver e moldar a sociedade em rede” (p.27). “A moldagem e a condução desta sociedade está, como esteve sempre no caso das outras, nas mãos do setor público, apesar do discurso ideológico que pretende esconder esta realidade. Contudo, o setor público é a esfera da sociedade em que as novas tecnologias de comunicação estão menos difundidas e os obstáculos à inovação e ao funcionamento em rede são mais pronunciados” (p.27). “De fato, o modelo burocrático racional do Estado da Era Industrial está em completa contradição com as exigências e os processos da sociedade em rede. Na base de todo o processo de mudança social está um novo tipo de trabalhador, o trabalhador autoprogramado, e um novo tipo de personalidade, fundada em valores, uma personalidade flexível capaz de se adaptar às mudanças nos modelos culturais, ao longo do ciclo de vida, porque tem capacidade de dobrar sem se partir, de se manter autônoma, mas envolvida com a sociedade que a rodeia. Este inovador ser humano produtivo, em plena crise do patriarcalismo e da família tradicional, requer uma reconversão total do sistema educativo, em todos os seus níveis e domínios. Isto refere-se, certamente, a novas formas de tecnologia e pedagogia, mas também aos conteúdos e organização do processo de aprendizagem” (p.27). “O novo modelo informacional de desenvolvimento redefine a condição de crescimento partilhado no mundo” (p.28). “Porém, estão mais pessoas desligadas destas redes do que as que estão incorporadas. A segmentação global da sociedade em rede, precisamente por causa do seu dinamismo produtivo, está a colocar uma parte significativa da humanidade em condições de irrelevância estrutural” (p.28). “A correção deste processo de exclusão massivo requer uma política pública internacional, concertada, que atue nas raízes do novo modelo de desenvolvimento (tecnologia, infraestruturas, educação, difusão e gestão do conhecimento) em vez de simplesmente providenciar a satisfação das necessidades, que surgem da exclusão social, sob a forma de caridade” (p.28). “Num mundo de redes digitais, o processo de criatividade interativa é contrariado pela legislação relativa a direitos de propriedade, herdados da Era Industrial” (p.28).

Dilemas do nosso tempo: criatividade versus capitalismo de rendimentos; democracia da comunicação versus controlo político

Neste início do século XXI, estamos numa encruzilhada do desenvolvimento da sociedade em rede. Estamos a testemunhar uma crescente contradição entre relações sociais tradicionais de produção e a potencial expansão de forças produtivas formidáveis. Esta pode ser a última contribuição da teoria marxista clássica. O potencial humano envolvido em novas tecnologias de comunicação e de genética, em redes, em novas formas de organização social e de invenção cultural, é verdadeiramente extraordinário. Contudo, sistemas sociais existentes travam a dinâmica da criatividade e, se desafiados pela competição, tendem a implodir” (p.29). “Os governos são ambíguos em relação aos usos da internet e das novas tecnologias. Eles apreciam os seus benefícios, porém temem perder o controle da informação e da comunicação em cujo poder sempre se apoiaram. Aderindo à democracia da comunicação concorda-se com a democracia direta, algo que nenhum estado aceitou ao longo da história. Admitir o debate para redefinir os direitos de propriedade acerta em cheio no coração da legitimidade capitalista. Aceitar que os utilizadores são produtores de tecnologia desafia o poder do especialista. Então, uma política inovadora, mas pragmática, terá de encontrar o meio caminho entre o que é social e politicamente exequível, em cada contexto, e a promoção das condições culturais e organizacionais para a criatividade na qual a inovação, o poder, a riqueza e a cultura se alicerçam, na sociedade em rede” (p.29).

4.

Garcia, Fabiane Maia. Tecnologia e educação: relações históricas, locais e mundializadas.
Novas Tecnologias na Educação. CINTED-UFRGS. V. 3 N. 1, maio, 2005.

“As mudanças do último século podem ser identificadas a partir de cinco grandes eixos, que se evidenciam nos campos da informática, da telecomunicação, da biotecnologia, das novas formas de energia e do uso de materiais” (p.2). “Historicamente, a Revolução Industrial provoca mudanças substanciais no modo de produção, tendo como base o desmembramento de técnica e tecnologia. Nesse contexto, técnica passa a ser a parte material ou o conjunto de processos de uma arte ou ainda a maneira, o jeito ou a habilidade especial de executar ou fazer algo, enquanto que tecnologia, segundo Lion (1998), é entendida como o uso do conhecimento científico que especifica modos de fazer as coisas de maneira reproduzível” (p.2). “A questão ética no desenvolvimento das tecnologias é uma das principais fontes de discussões e debates na comunidade científica, pois, nesta, existem facções que ainda defendem a tecnologia vinculada aos valores, à vida e à ética humana, enquanto outras afirmam não ser possível pôr amarras nos avanços tecnológicos ou sobrepor aos interesses e às necessidades científicas de avançar” (p.2-3). “A questão do avanço científico-tecnológico é tão emergente que, hoje, o valor principal já não está na combinação de terra, capital e trabalho, mas sim no nível de conhecimento que uma população dispõe e na sua capacidade de transmitir e reconstruir conhecimento, o que traduz sua competência no manuseio do instrumental tecnológico moderno (Moraes, 1997). Portanto, tem-se observado que o domínio do conhecimento é hoje o que o domínio dos modos de produção foi no escravismo, no feudalismo e na indústria” (p.3).Neste contexto, a educação escolar, em que o conhecimento por excelência deve ser produzido, está sendo pressionada a fazer uso das tecnologias produzidas na sociedade da qual faz parte” (p.3). “Ao longo do tempo, especialistas em educação vêm desenvolvendo diversos recursos para otimizar a tarefa do professor em sala de aula” (p.3).No Brasil, estas tecnologias são inseridas nas escolas a partir da década de 1950 com os chamados pacotes de instruções metodológicas, em que o docente executava propostas elaboradas por especialistas, separando, claramente, os que pensam dos que fazem” (p.4). “As tecnologias chegam as nossas escolas ainda que restrita e sem o entendimento pleno de sua utilização por parte dos educadores. Porém, a sociedade de hoje possui um universo de conhecimento que a revoluciona profundamente, tendo a escola a função de equalizar as disparidades sociais existentes, tanto em termos econômicos quanto culturais” (p.4-5). “O simples acesso à tecnologia em si não é o aspecto mais importante, mas sim, a criação de novos ambientes de aprendizagem e de novas dinâmicas sociais a partir do uso dessas novas ferramentas (Moraes, 1997)”. “Mesmo estando presente no cotidiano escolar há algum tempo, as tecnologias de informação apresentam-se aos profissionais do ensino como uma novidade, apesar da grande maioria já desenvolver experiências significativas com as mesmas” (p.5). “Infelizmente, mesmo possuindo recursos da quarta geração de ensino, a maioria das escolas públicas e particulares faz uso meramente instrumental ou pouco utiliza os recursos classificados como de primeira geração” (p.6).

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