quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Farael e a fábula das rodas tristes

Farael e as rodas tristes

Em uma pequena cidade litorânea, chamada Nhataiém, aconteceu de o jovem Farael tropeçar em uma roda. Na verdade, não era bem uma roda: parecia mesmo que era a parte da frente de uma bicicleta, pois havia a roda e também o guidão. Farael ficou entusiasmado, pois ele ia triste para escola todos os dias, a pé e sem nenhuma companhia. Procurou a parte de trás da bicicleta, mas não encontrou nada ali por perto. Discretamente, Farael reparou que a roda estava chateada. Percebeu, também, que era um tipo de roda que não gostava muito de conversar.

– Provavelmente estava triste por não ter a sua irmã roda junto dela – pensou Farael.

Então, ele não puxou conversa, mas trouxe a roda junto com ele, chamando-a de Maria Roda. Ela pareceu gostar, pois não reclamou nas diversas vezes que ele a chamou por esse nome.

A partir daquele dia, ele e Maria Roda iam juntos para todos os lugares.

Por isso, ela estava com Farael quando ele fora a casa da sua tia-avó Libanita Vitorinesa. Antes de chegar, passando pelo mesmo caminho que ele sempre passava, Farael reparou em um estranho lago, que nunca estivera ali antes.

Aproximou-se e percebeu que o lago era ainda mais estranho de perto: parecia que toda sua água era feita de lágrimas... Não demorou e Farael ouviu uns choramingos bem baixinhos. Olhou bem a sua volta e não viu ninguém. Foi Maria Roda que percebeu e chamou-lhe atenção: o choro vinha do meio do lago, onde estava uma roda de bicicleta aos prantos. E não era uma simples roda, não: era mesmo a parte de trás de uma bicicleta!

O rapaz aproximou-se um pouco e perguntou à roda por que ela chorava tanto e também quis saber como era o seu nome. Entre soluços e lágrimas, ela disse que não tinha um nome, mas ouvia as pessoas que passavam chamarem-na de Roda Mole, pois ela era muito molenga e chorava por qualquer coisa.

– Porém, não era verdade! – disse ela. E explicou que chorava por um motivo bem triste: certo dia, sua dona havia caído de uma encosta e morrido justamente quando elas estavam passeando. O noivo da falecida, o grande e forte Jucas, ficou tão triste que partiu a bicicleta em dois pedaços, jogando-os longe um do outro. Por causa disso, ela agora estava sem dona e também sem sua irmã roda.

Só depois que falou isso é que a roda chorona ergueu os olhos para saber com quem estava conversando. Viu Farael e, ao lado dele, Maria Roda – que já não estava mais triste, pois tinha certeza de que elas eram irmãs. Farael, que não era nenhum bobo, também já tinha percebido.

Então, ele mergulhou no lago, alcançou a Roda Mole e seguiu com as duas para a casa da sua tia-avó Libanita. A vovó Libanita tinha uma caixa de costura mágica. Ela tricotou uma cordinha e amarrou as duas rodas que, juntas, voltaram a ser uma bicicleta. Quer dizer, uma bicicleta um pouco diferente, pois ela se dobrava exatamente na altura da costura. O único que sabia usar a bicicleta era Farael, que passou a chamá-la de Maria Mole, pedalando-a todos os dias ao ir feliz para a escola...

Moral da história: quem tem amigos não tem tristeza longa.


Jorge de Lima, Itanhaém. 12/10/2017.

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